O preconceito linguístico se manifesta quando uma forma de falar é desvalorizada ou rejeitada em detrimento de outra considerada “culta” ou “correta”. Essa postura, muitas vezes reforçada na escola, impede que a diversidade linguística do Brasil seja aceita como parte de sua identidade.
Essa exclusão impacta diretamente a autoestima e o desempenho escolar de milhões de estudantes, especialmente aqueles oriundos de contextos periféricos, indígenas e quilombolas, que veem sua forma de falar como inferior.
O que você vai ler neste artigo:
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Entendendo o preconceito linguístico
O preconceito linguístico se baseia na ideia equivocada de que existe uma única forma certa de falar, geralmente associada à norma padrão da Língua Portuguesa. Essa visão ignora a natureza viva, cambiante e diversa da linguagem humana. No Brasil, um país com dimensões continentais e marcantes contrastes sociais, culturais e regionais, as variações linguísticas fazem parte do cotidiano.
Entretanto, ao tratar certas formas de expressão como “erradas”, marginaliza-se não apenas o idioma, mas também quem o utiliza. Além de colocar barreiras no aprendizado, esse tipo de discriminação aprofunda desigualdades, pois impede o reconhecimento pleno das múltiplas identidades que compõem a sociedade.
Assim, influências regionais, sotaques marcantes e construções gramaticais típicas de determinadas áreas são frequentemente alvos de chacotas, memes e julgamentos.
Consequências no ambiente escolar
A escola é um dos principais espaços nos quais o preconceito linguístico se materializa. Dessa forma, professores e gestores, muitas vezes sem formação adequada em sociolinguística, corrigem alunos de forma pejorativa ou desconsideram suas origens linguísticas. A consequência é grave, pois crianças e adolescentes passam a sentir vergonha do próprio modo de falar.
Esse constrangimento pode acarretar queda de rendimento acadêmico, evasão escolar e desinteresse pelo aprendizado. Jovens atravessam um processo de exclusão simbólica que questiona sua legitimidade como aprendizes. O resultado é uma escola que não inclui, mas silencia.
Por que combater o preconceito linguístico é essencial para a inclusão
A luta contra o preconceito linguístico é, antes de tudo, uma questão de inclusão e cidadania. Quando um aluno é respeitado por seu modo de falar, ele se sente aceito e parte do processo educativo. Esse sentimento reforça a confiança, favorece o aprendizado e constrói uma escola mais democrática.
Além disso, compreender a linguagem como algo que evolui e se adapta a contextos diversos é fundamental para formar cidadãos críticos e empáticos. O respeito à pluralidade linguística ensina a ouvir o outro sem julgamento, valorizando a riqueza contida nas diferentes vozes do Brasil.
Assim, programas de formação docente precisam incluir conteúdos de sociolinguística e de educação antidiscriminatória. Também é indispensável atualizar os currículos escolares para que incentivem a valorização das variedades do português falado, inclusive por meio do estudo de autores da literatura brasileira que retratam, sem censura, a linguagem regional.
Caminhos para uma educação mais justa
Superar o preconceito linguístico na escola exige ações em diversas frentes. Veja alguns caminhos que já demonstraram resultados positivos:
- Formação continuada de professores: capacitar docentes para lidar com a diversidade linguística com empatia e conhecimento técnico.
- Reforma curricular: incluir conteúdos sobre variação linguística, preconceito linguístico e valorização das falas regionais.
- Produção de material didático inclusivo: contemplar variedade de registros linguísticos e representações de diferentes falas brasileiras.
- Valorização da literatura brasileira: utilizar obras que retratam a linguagem popular para aproximar os alunos do conteúdo escolar.
- Diálogo com as comunidades: reconhecer a linguagem como expressão cultural das famílias e coletividades.
Essas medidas ajudam a construir uma escola onde todos se veem representados e respeitados, fortalecendo a autoestima dos estudantes e favorecendo a aprendizagem de forma significativa.
Como o tema do preconceito linguístico pode ajudar na redação do ENEM
Pode aparecer como tema central da redação
O Enem costuma abordar questões sociais relevantes, ligadas aos direitos humanos, educação, cidadania e diversidade. Por isso, o preconceito linguístico se encaixa perfeitamente nesse perfil.
Serve como repertório sociocultural legítimo
Mesmo que o tema da redação não seja exatamente o preconceito linguístico, esse conteúdo pode ser usado como exemplo ou analogia em temas como:
- Desigualdade educacional
- Exclusão social
- Preconceito e discriminação
- A importância da diversidade cultural
- Os desafios da inclusão no Brasil
- Direitos linguísticos e identidade cultural
Ajuda a construir repertório crítico
Compreender o preconceito linguístico permite ao aluno:
- Ter um olhar mais empático sobre a diversidade cultural e social do Brasil;
- Evitar frases preconceituosas ou elitistas na redação;
- Usar exemplos de autores e obras que valorizam as falas regionais (como Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Racionais MC’s etc.);
- Criar propostas de intervenção mais humanizadas, baseadas em educação, formação docente e respeito à diversidade.
Favorece o domínio da norma padrão com consciência
Saber que a norma padrão não invalida outras formas de expressão ajuda o aluno a se sentir mais confiante ao escrever, sem vergonha de sua origem linguística. Isso melhora o desempenho na escrita e contribui para um texto mais claro, fluido e bem estruturado.
Assim, para quem se prepara para o Enem, compreender essa temática vai além do domínio de um conteúdo escolar, pois envolve a oportunidade de desenvolver repertório crítico, empatia social e argumentos sólidos para a redação.
Afinal, ao reconhecer que toda forma de falar carrega cultura, história e identidade, o aluno não apenas se fortalece como sujeito de linguagem, mas também como cidadão capaz de contribuir para um Brasil mais justo, plural e democrático.