O movimento romântico marcou uma revolução na forma como as emoções humanas, os sentimentos nacionais e os conflitos sociais passaram a ser retratados na literatura. Nascido na Europa como reflexo das grandes transformações políticas e culturais da época, o romantismo encontrou em Portugal e no Brasil terrenos férteis para se desenvolver com características próprias.
Dando voz à subjetividade, à imaginação e à liberdade criativa, esse estilo de época conquistou leitores por meio de narrativas intensas, idealizações amorosas e críticas sociais envolvidas em linguagem poética e envolvente.
O que você vai ler neste artigo:
Contexto histórico do romantismo
O surgimento do romantismo está profundamente ligado às mudanças provocadas pela Revolução Francesa (1789-1799). Com o colapso do Antigo Regime e a ascensão da burguesia, passou a se valorizar a liberdade, de pensamento, de expressão e de estilo. Artistas e escritores assumiram a subjetividade como forma legítima de expressão e criticaram a razão absoluta exaltada pelo Iluminismo.
Além disso, as invasões napoleônicas intensificaram o sentimento nacionalista em países como a Alemanha, a França e a Itália. O romantismo, portanto, surgiu como resposta à racionalidade iluminista e aos cânones clássicos, valorizando a emoção, o individualismo, a nostalgia e as tradições nacionais.
Principais características do romantismo
As obras românticas, seja na poesia ou na prosa, compartilham traços marcantes que consolidaram esse movimento como um divisor de águas na literatura.
- Subjetivismo: Os textos românticos se concentram nas emoções e percepções individuais dos autores e personagens.
- Idealização: Amor, mulher, infância e pátria aparecem de forma idealizada e muitas vezes inatingível.
- Sentimentalismo: Emoções intensas e exageradas permeiam as obras.
- Fuga da realidade: Muitos escritores criam ambientes distantes ou históricos como forma de escapar dos problemas do presente.
- Exaltação da natureza: A natureza assume papel simbólico e revelador do estado emocional dos personagens.
- Nacionalismo: Exaltação dos heróis nacionais, lendas populares e eventos históricos como forma de afirmação identitária.
- Linguagem emotiva: Uso frequente de adjetivos intensificadores, exclamações e construções poéticas.
Romantismo em Portugal
O romantismo português se desenvolveu em três fases distintas, cada uma refletindo transformações na sociedade e estilos predominantes.
Primeira fase
Essa fase é marcada pela redescoberta da identidade nacional portuguesa. Autores como Almeida Garrette Alexandre Herculano usaram elementos históricos e populares para criar uma literatura voltada à construção da nação. Obra de destaque: Camões(1825), de Garrett.
Segunda fase
Caracterizada pelo culto à subjetividade, melancolia e morte, a segunda fase abraça o pessimismo em sua forma mais intensa. O escritor Soares de Passos é um exemplo da poesia marcada por lamentos e desilusões.
Terceira fase
Também chamada de fase pré-realista, ela é marcada pela crítica social e pelo abandono da idealização. Camilo Castelo Branco e Júlio Dinis abordaram temas sociais e aproximaram o romance da realidade cotidiana sem perder o charme narrativo romântico.
Autores e obras do romantismo português
- Almeida Garrett: Frei Luís de Sousa(1843), Camões(1825)
- Alexandre Herculano: Eurico, o Presbítero(1844)
- Camilo Castelo Branco: Amor de Perdição(1862)
- Júlio Dinis: As Pupilas do Senhor Reitor(1867)
- Antero de Quental: Odes Modernas(1865)
Essas obras representam as camadas do romantismo em Portugal, ora exaltando a pátria, ora mergulhando em desilusões amorosas, ora abrindo caminho para a crítica social.
Romantismo no Brasil
Inspirado no romantismo europeu, principalmente no modelo português, o romantismo brasileiro desenvolveu identidade própria. Assim, dividido igualmente em três fases, refletiu as transformações sociais, políticas e culturais do país, desde a Independência até o final do Império.
Primeira geração
Fortemente influenciada por Os Lusíadas, do classicismo português, essa fase incorpora o índio como herói nacional. É marcada pela exaltação da natureza brasileira e pelo desejo de construção de uma identidade nacional. Destaque para Gonçalves Dias, com sua obra I-Juca-Pirama.
Segunda geração
Influenciada pelo pessimismo europeu, a segunda geração apresenta temas como morte, sofrimento, amor impossível e tédio existencial. Autores como Álvares de Azevedo, com Lira dos Vinte Anos, e Casimiro de Abreu, com As Primaveras, destacam-se nesse período.
Terceira geração
Voltada ao engajamento político e denúncia das injustiças sociais, essa fase se aproxima do realismo. Castro Alves é figura central, destacando-se com Os Escravos, uma obra marcada pelo abolicionismo e ideal de liberdade.
Autores e obras do romantismo brasileiro
- Gonçalves Dias: Canção do Exílio(1846), I-Juca-Pirama(1856)
- Álvares de Azevedo: Lira dos Vinte Anos(1853), Noite na Taverna(1855)
- Casimiro de Abreu: As Primaveras(1859)
- José de Alencar: Iracema(1865), Senhora(1875), O Guarani(1857)
- Castro Alves: Espumas Flutuantes(1870), Os Escravos(1883)
- Maria Firmina dos Reis: Úrsula(1859)
Destacam-se também as tendências específicas dentro da prosa, que é o romance indianista, o romance urbano e o romance regionalista, formas que dialogam diretamente com os diferentes aspectos da identidade brasileira.
Comparação: romantismo x classicismo
Para entender a ruptura promovida pelo romantismo, é essencial compará-lo com o estilo anterior, o classicismo:
Características | Classicismo | Romantismo |
Época | Século XVI | Século XIX |
Base filosófica | Racionalismo | Subjetividade |
Enfoque | Equilíbrio e razão | Emoção e exagero |
Mulher | Musa inspiradora | Figura idealizada e inatingível |
Amor | Pleno e racional | Doloroso e inalcançável |
Natureza | Harmoniosa | Sublime e emocional |
Dessa forma, romantismo, tanto em Portugal quanto no Brasil, representou uma virada estética e ideológica decisiva. Portanto, ao desafiar os padrões clássicos e iluminar o eu interior do artista, abriu caminho para expressões intensas das emoções, do amor e das ansiedades sociais.