O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) surpreendeu ao atualizar a cartilha da redação do Enem destacando, pela primeira vez, um alerta específico sobre os chamados “repertórios de bolso”.
Essas referências decoradas e aplicadas de maneira genérica têm gerado penalizações nas correções, afetando diretamente o desempenho dos candidatos, especialmente na Competência II da prova escrita.
O que você vai ler neste artigo:
O que são repertórios de bolso segundo o Inep
Na nova cartilha divulgada, o Inep descreve os repertórios de bolso como referências repetidas, memorizadas e pouco aprofundadas, normalmente desconectadas do tema específico da redação. A utilização desse tipo de conteúdo demonstra ao corretor uma tentativa de inserção forçada de conhecimento, que não contribui efetivamente para o desenvolvimento do ponto de vista do autor do texto.
O órgão educacional também alerta que, apesar de o uso de repertório sociocultural ser um dos critérios mais valorizados na redação, sua aplicação deve ser legítima, crítica e bem contextualizada. Quando isso não ocorre, o conteúdo pode ser considerado improdutivo e comprometer a avaliação.
Entre os exemplos citados está o caso clássico do uso da obra “Utopia”, de Thomas More, que aparece frequentemente de forma genérica e decorada, sem estabelecimento de relação real com o tema proposto — o que caracteriza um repertório de bolso.
Como a penalização afeta a nota
Segundo o Inep, a penalização incide sobre a Competência II, que avalia a capacidade do candidato de desenvolver o tema com argumentação consistente e adequada, além da mobilização de repertórios legitimamente relacionados ao assunto. Quando a referência é automaticamente inserida, sem articulação com os argumentos ou sem relevância temática, ela pode ser desconsiderada como produtiva.
A consequência não é a anulação da redação, mas pode impactar significativamente a nota atribuída a essa competência, que vale até 200 pontos. Isso ajuda a explicar por que, em 2024, apenas 12 estudantes tiraram a nota máxima, ante 60 em 2023. Ainda que os critérios de correção continuem os mesmos, a banca tornou-se mais criteriosa com o uso de modelos prontos ou repetitivos.
Portanto, mesmo uma referência “correta” ou “reconhecida” academicamente pode gerar prejuízo ao candidato se for usada de maneira pouco crítica. A falta de análise e de relação com a proposta de intervenção pode levar à desvalorização do repertório apresentado.
Exemplo de repertório superficial
O Inep evidenciou trechos de redações em que o uso do repertório de bolso comprometeu a argumentação. Um exemplo citado foi:
“‘Utopia’, a famosa obra do escritor britânico Thomas More, retrata uma cidade perfeita, livre de mazelas sociais. No entanto, a realidade brasileira é adversa à idealizada na obra, pois os desafios para valorização da herança africana do Brasil são uma problemática existente.”
Embora a referência à obra literária seja válida, o uso genérico e desvinculado da temática da valorização da herança africana no Brasil torna o argumento frágil. A ausência de contextualização e análise crítica não contribui efetivamente para sustentar o ponto de vista do autor da redação.
Vale lembrar que a excelência na redação não se resume à presença de citações ou autores renomados, mas à forma como esses recursos são trabalhados dentro do texto.
O que é considerado repertório produtivo?
Para evitar penalizações, o candidato deve compreender a diferença entre decorar e analisar. Um repertório produtivo é aquele que se relaciona diretamente com o tema proposto, colabora para a construção do argumento e demonstra que o candidato compreende o conteúdo citado.
A cartilha apresenta um exemplo claro de uso eficaz do repertório ao mencionar a obra Úrsula, de Maria Firmina dos Reis. No trecho, a análise considera o contexto histórico da autora, o pioneirismo na representação de personagens negros de forma não estereotipada e a relevância para o debate sobre visibilidade e representatividade na cultura afro-brasileira:
“[…] essa escritora ajuda a refletir sobre o apagamento de mulheres negras no cânone literário e no currículo escolar, um dos obstáculos à valorização da cultura africana no país.”
Esse é um exemplo de referência crítica, bem articulada e que contribui com a argumentação. O Inep reforça que repertórios válidos também podem surgir de fontes diversas: músicas, filmes, podcasts, documentários, entrevistas e até vivências pessoais, desde que bem relacionados com o tema.
Como se preparar de forma eficaz
Diante desse novo cenário de avaliação, professores recomendam que os estudantes deixem de lado a memorização de modelos prontos e passem a investir mais em repertórios próprios, oriundos de leituras diversificadas e análise crítica dos temas sociais em debate.
Algumas recomendações práticas incluem:
- Desenvolver a leitura crítica de atualidades e obras literárias diversas;
- Assistir a documentários e conteúdos culturais amplos com olhar analítico;
- Relacionar acontecimentos, dados e fatos com questões sociais recorrentes;
- Evitar copiar modelos de introdução e conclusão decorados.
Ao longo da preparação, é mais produtivo entender profundamente alguns repertórios do que tentar decorar uma lista extensa e correr o risco de usá-los de forma genérica. A autenticidade, nesse caso, pode ser decisiva para alcançar uma redação de alto desempenho.
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