Temas de redação que envolvem assuntos distantes da vivência cotidiana dos estudantes costumam representar os maiores desafios no Enem. Quando a proposta exige maturidade reflexiva, vocabulário técnico ou repertório social complexo, a estrutura argumentativa pode ficar comprometida.
Entre os temas mais difíceis já cobrados no exame, destacam-se aqueles que envolvem exclusão, políticas públicas desconhecidas ou termos pouco abordados no cotidiano do ensino médio. Esses tópicos, apesar de fundamentais, nem sempre fazem parte das discussões escolares.
O que você vai ler neste artigo:
Invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher (2023)
A edição de 2023 do Enem abordou os “desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. O tema envolvia diferentes camadas: questões de gênero, economia e organização doméstica.
Muitos estudantes não tinham familiaridade com o conceito de “trabalho de cuidado”, o que dificultou a argumentação. Esse trabalho, geralmente realizado por mulheres no ambiente familiar e profissional — como cuidar de filhos, idosos ou da casa —, é historicamente desvalorizado e invisibilizado.
Além da falta de repertório, o fato de grande parte do público do Enem ser jovem contribuiu para a dificuldade de se enxergar nesse contexto. A compreensão exigia maturidade para reconhecer desigualdades estruturais e refletir sobre políticas públicas que valorizassem essas funções.
Invisibilidade e registro civil (2021)
Com a proposta “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”, o Enem 2021 exigiu a compreensão sobre como a ausência de um registro básico, como a certidão de nascimento, pode limitar o acesso a direitos fundamentais.
O tema surpreendeu muitos candidatos por tratar de uma realidade que, para a maioria, parecia distante. Entretanto, milhões de brasileiros vivem sem documento e, por isso, são impedidos de acessar serviços essenciais como saúde, educação e programas sociais.
A proposta exigiu um entendimento sobre cidadania formal no país e a identificação de como o Estado pode garantir o acesso igualitário a esses documentos. Essa complexidade fez com que muitos debates girassem em torno da exclusão social, sem aprofundar as implicações administrativas e jurídicas da falta de registro.
Democratização do acesso ao cinema (2019)
O tema de 2019 tratava da “democratização do acesso ao cinema no Brasil”, um assunto conectado à esfera cultural, mas ainda pouco debatido no cotidiano estudantil. O desafio, nesse caso, era compreender o que, de fato, significa “democratizar” o acesso a produtos culturais como o cinema.
Além disso, não havia um problema evidente no enunciado, o que dificultou a identificação da tese. Cabia ao candidato refletir sobre barreiras econômicas, geográficas, tecnológicas e até mesmo políticas que impedem o acesso ao cinema, especialmente em áreas periféricas e regiões afastadas dos grandes centros urbanos.
Foi necessário, também, relacionar o acesso à cultura com a formação crítica dos cidadãos, o que nem sempre é tema recorrente no currículo escolar. A ausência de repertório acabou limitando os argumentos.
Manipulação do comportamento na internet (2018)
No Enem de 2018, o tema “manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet” surpreendeu por tratar de um recorte mais técnico e abstrato, exigindo noções sobre algoritmos, inteligência de dados e privacidade digital.
Ao contrário da tendência anterior do Enem, que costumava escolher temáticas com recortes sociais mais diretos, esse tema abordava um comportamento coletivo moldado por grandes corporações digitais. A manipulação do consumidor ou eleitor em plataformas online exigiu raciocínio crítico e informações sobre mecanismos como cookies, venda de dados e bolhas informacionais.
A dificuldade maior foi a pouca familiaridade dos estudantes com os bastidores tecnológicos da internet — apesar de serem usuários assíduos. Muitos não entenderam a fundo o problema ético e político envolvido, o que resultou em textos mais descritivos do que reflexivos.
Formação educacional de surdos no Brasil (2017)
Em 2017, a proposta “desafios para a formação educacional de surdos no Brasil” trouxe à tona a invisibilidade das pessoas com deficiência, especialmente dentro do contexto educacional.
O tema foi considerado difícil por exigir conhecimento sobre o funcionamento do sistema educacional inclusivo, as limitações enfrentadas por pessoas surdas e o papel das políticas públicas, como a Libras (Língua Brasileira de Sinais) e a capacitação de professores.
Como muitos estudantes nunca tiveram contato direto com a comunidade surda, isso dificultou a construção de argumentos sólidos. Houve uma tendência a tratar o tema de forma genérica, o que comprometeu o aprofundamento necessário para demonstrar senso crítico e empatia.
Os temas mais desafiadores do Enem costumam fugir das pautas convencionais e exigem conhecimento sobre realidades marginalizadas. Essa complexidade revela a importância de ampliar o acesso às discussões sociais e culturais desde o ensino básico, inclusive com abordagens interdisciplinares.
Ter um bom desempenho nessas propostas requer mais do que domínio da estrutura dissertativa: exige leitura ampla, espírito crítico e compreensão das diversas faces da desigualdade brasileira.
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