Como tirar nota mil na redação do Enem com repertório cultural relevante

Ele era ainda estudante do 9º ano quando teve o primeiro contato com o livro “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, de Ailton Krenak. A leitura, sugerida por uma professora, marcou um momento chave na trajetória de Rodrigo Junqueira Santiago Simões.

Quase quatro anos depois, esse mesmo título inspira a referência central da redação que lhe renderia nota máxima no Enem 2022, consolidando um dos exemplos mais emblemáticos de como repertório cultural é essencial na prova.

A importância do repertório pessoal

Rodrigo não apenas leu o livro, como também absorveu suas ideias centrais, algo que se tornou evidente na sua redação no Enem. O tema proposto naquele ano foi “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”, um terreno fértil para abordar a obra de Krenak. Utilizar um autor indígena amplamente respeitado reforçou a pertinência, originalidade e profundidade como base argumentativa.

A experiência demonstra que o desenvolvimento de um bom repertório não exige leitura de obras complexas imediatamente antes do exame. Pelo contrário, o arsenal de referências culturais e sociais pode ser formado ao longo de anos, acumulando reflexões que se integram naturalmente em argumentos consistentes.

Mais do que apenas citar um título, Rodrigo demonstrou domínio das ideias defendidas por Krenak, aplicando-as com clareza e em consonância com os princípios da estrutura dissertativa-argumentativa exigida pelo exame.

O raciocínio por trás da nota mil

A estrutura do texto de Rodrigo revela uma habilidade incomum de conectar aspectos sociais, culturais e ambientais de maneira coerente. Na introdução, ele já estabelece os principais desafios enfrentados pelos povos tradicionais — o apagamento de seus saberes e as agressões ambientais aos seus territórios.

A redação segue com dois eixos principais:

• A destruição ambiental como ameaça direta ao modo de vida dos povos tradicionais.
• A invisibilização dos saberes ancestrais como um fator de desvalorização cultural.

Cada argumento é desenvolvido com linguagem clara, coesão e progressão lógica, o que demonstra até que ponto a prática contínua de escrita e a leitura crítica contribuíram para o seu desempenho excepcional.

Reflexo de uma preparação além do conteúdo

Em entrevistas, Rodrigo relatou que não esperava tirar a nota máxima, especialmente por já ter alcançado 880 pontos em anteriores. Porém, ele também comentou que se sentiu mobilizado pelo tema, o que potencializou sua produção textual. Essa identificação demonstra o impacto emocional e intelectual que temas socialmente relevantes podem causar nos participantes do exame.

Outro diferencial de seu texto foi a proposta de intervenção: realista, bem estruturada e diretamente ligada aos problemas discutidos. Ele sugeriu ações do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Educação, incluindo punições mais severas contra crimes ambientais e a inclusão de conteúdos sobre povos tradicionais no currículo escolar.

Esse tipo de abordagem demonstra maturidade argumentativa e compromisso com a resolução prática dos problemas discutidos — pontos avaliados especificamente na competência 5 da redação do Enem.

Aprovado na universidade pública

Com o resultado da redação e um bom desempenho geral na prova, Rodrigo foi aprovado em primeira chamada no curso de Direito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O sucesso não se deu por acaso: foi consequência de anos de atenção, interesse por temas sociais e participação ativa nas aulas.

O nervosismo do dia anterior ao resultado o impediu até de consultar o sistema do Inep de imediato. Apenas no dia seguinte, com calma, Rodrigo descobriu sua conquista — a nota mil era verdadeira e refletia uma jornada acadêmica construída com esforço e sensibilidade.

Lições para futuros candidatos

Rodrigo se tornou um exemplo concreto de como referências culturais absorvidas genuinamente têm grande potencial na hora da redação. Veja alguns aprendizados extraídos de sua trajetória:

• Leituras feitas anos antes podem servir de base para bons argumentos.
• A análise crítica de temas sociais amplia a capacidade de desenvolver ideias relevantes.
• Praticar a escrita com frequência é essencial para evoluir na estrutura do texto.
• O Enem valoriza propostas viáveis, claras e bem articuladas com o conteúdo do texto.
• Ter empatia e envolvimento com o tema pode ser um diferencial na redação.

O caso mostra que a excelência na redação não depende apenas de estudar para o Enem em si, mas de uma formação que valorize a leitura, a escuta e o pensamento crítico desde os primeiros anos escolares.