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O que o mapa-múndi invertido do IBGE ensina sobre cartografia

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O novo mapa-múndi apresentado pelo IBGE surpreendeu parte do público por adotar um posicionamento fora do padrão eurocêntrico. Com o Polo Sul no topo e o Brasil ao centro, o mapa mexe com percepções geográficas consolidadas no imaginário escolar.Contudo, longe de estar errado, o mapa é uma ferramenta que estimula a reflexão crítica sobre o papel dos mapas e das convenções cartográficas. Ele integra saberes importantes para a compreensão de temas do Enem.

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Rosa dos ventos e orientação espacial

No centro da polêmica gerada pela nova representação está a orientação da rosa dos ventos. Nessa versão, o sul está apontado para cima e o norte, para baixo — uma inversão pouco comum, mas válida. É importante destacar que não existe um “cima” ou “baixo” fixos na geografia planetária. A ideia de colocar a Europa no topo, por exemplo, é uma convenção herdada da tradição cartográfica europeia.Com isso, o mapa do IBGE ensina que a posição dos pontos cardeais depende unicamente da orientação atribuída no momento da construção do mapa. Diferentes finalidades justificam diferentes orientações, e entendê-las é essencial para lidar com a linguagem cartográfica, como exige a prova de Geografia no Enem, que frequentemente apresenta mapas temáticos e encaixa questões de interpretação a partir deles.

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Projeção cartográfica e distorções

Outro ponto didático é a projeção cartográfica utilizada. Como qualquer mapa plano tenta representar uma superfície curva (a Terra), ele inevitavelmente distorce proporções. A versão usada pelo IBGE é baseada na projeção de Eckert III, proposta em 1906. Essa projeção oferece uma representação mais equilibrada para as áreas centrais do globo, como a região da América do Sul, ainda que aumente as áreas polares.Essa escolha reforça um dos fundamentos da cartografia moderna: todo mapa é uma representação parcial e proposital da realidade. Portanto, ao analisar uma projeção, é necessário considerar seu objetivo. Em provas do Enem, questões frequentemente abordam os diferentes tipos de projeções (como Mercator, Peters, Mollweide) e suas implicações políticas, sociais e ideológicas — um ponto de conexão com esse novo material do IBGE.

Mapa temático e geopolítica

Mais do que uma ferramenta geográfica, o novo mapa é também um recurso político e educativo. Ele coloca o Brasil no centro do mundo, visualmente, o que remete à posição de destaque que o país vem ocupando em fóruns multilaterais. No material, estão destacados:

  • Os países do BRICS (em laranja), grupo econômico que o Brasil lidera em 2025.
  • Os membros do Mercosul (em verde), com o Brasil na presidência do bloco.
  • A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (em roxo), que inclui Brasil, Portugal e ex-colônias lusófonas.
  • Os países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica.

Essa escolha temática permite trabalhar competências exigidas em ciências humanas, como a compreensão da inserção geopolítica do Brasil e sua atuação em blocos regionais e coalizões internacionais. Além disso, reforça o peso da política ambiental com a realização da COP-30 na cidade de Belém, outro aspecto que pode ser abordado tanto na Geografia quanto na Redação do Enem.

Destaques simbólicos no território brasileiro

Três locais do Brasil ganham destaque visual no mapa:

  • Belém (Pará), sede da COP-30;
  • Rio de Janeiro, apontado como capital do BRICS em 2025;
  • Ceará, representante do Fórum de Governança do Sul Global.

Esses elementos demonstram a intenção do mapa de servir como um recurso de educação política e geográfica, conectando eventos contemporâneos com o espaço nacional. Ao dar centralidade ao Brasil, o IBGE convida os observadores a pensar o país como protagonista em agendas globais — um contraponto ao papel muitas vezes periférico que outros mapas (tradicionalmente eurocêntricos) atribuíam.

Tradição eurocêntrica e revisão de paradigmas

O desconforto causado por essa nova representação revela como a leitura cartográfica ainda é moldada por paradigmas históricos. O padrão que coloca a Europa no centro e no topo do mapa não é natural, mas construído a partir de séculos de dominação, exploração colonial e difusão de conhecimento a partir da ótica europeia.O Enem costuma incentivar o pensamento crítico sobre esses padrões. Questões sobre eurocentrismo, colonialismo ou decolonialidade aparecem em diversos contextos, principalmente na Redação e nas provas de Geografia e História. Nesse sentido, o mapa do IBGE é um excelente ponto de partida para refletir sobre:

  • Como as representações geográficas moldam visões de mundo;
  • De que forma a centralização da Europa nos mapas influenciou o ensino da geopolítica;
  • A importância de representações alternativas para uma educação mais plural.

O papel pedagógico do novo mapa

Mais do que questionar convenções cartográficas, o mapa-múndi do IBGE convida professores e estudantes a debaterem o uso dos mapas como construções sociais intencionais. Ele cumpre uma função expressiva tanto na formação crítica quanto no desenvolvimento das habilidades exigidas no Enem, como a competência para analisar linguagens cartográficas, contextos geopolíticos, processos de integração internacional e os efeitos simbólicos das representações visuais.Além disso, ele dialoga diretamente com temas contemporâneos, como o combate à emergência climática, a redefinição das lideranças globais e o fortalecimento de vínculos entre países emergentes.Ao transformar elementos técnicos da cartografia em um convite à reflexão, o mapa do IBGE não apenas inverte o mundo, mas também amplia o olhar do estudante sobre ele — um aprendizado valioso para quem busca compreender com profundidade os desafios do século XXI.

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