As 10 funções da palavra “que”: guia completo com exemplos

A língua portuguesa, com sua riqueza e complexidade, apresenta termos que, à primeira vista, parecem simples, mas escondem uma miríade de aplicações. Entre eles, a palavra “que” se destaca, funcionando como um verdadeiro camaleão gramatical.

Dominar as funções do que é crucial para a fluidez da escrita e a clareza da comunicação, desvendando as múltiplas roupagens que essa palavra versátil pode assumir em diferentes contextos frasais.

As funções do “que” como pronome relativo

Uma das mais reconhecidas funções do que é atuar como pronome relativo. Neste papel, ele tem a capacidade de ligar duas orações, substituindo um termo já mencionado na oração anterior e evitando repetições desnecessárias. Sua principal característica é introduzir uma oração subordinada adjetiva.

Quando o “que” funciona como pronome relativo, ele pode se referir a pessoas ou coisas, exercendo diversas funções sintáticas dentro da oração que introduz, como sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, adjunto adnominal ou até adjunto adverbial. É importante notar que, nesse caso, ele pode ser substituído por “o qual”, “a qual”, “os quais” e “as quais”, ou suas variantes preposicionadas.

Um exemplo clássico é a frase “O livro que comprei é fascinante”. Aqui, “que” retoma “o livro” e atua como objeto direto do verbo “comprei” (quem compra, compra algo). Sua presença confere fluidez e coesão textual, características essenciais para um texto bem elaborado e de fácil compreensão.

A identificação do “que” como pronome relativo é fundamental para a análise sintática correta das frases, contribuindo significativamente para o entendimento das relações entre as orações. É um elemento chave na construção de períodos compostos mais complexos e informativos, enriquecendo o estilo e a precisão do discurso, uma das principais funções do que no português.

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As funções do “que” como conjunção integrante

Outra das significativas funções do que reside em seu uso como conjunção integrante. Neste caso, a palavra “que” serve para introduzir orações subordinadas substantivas, que funcionam como termos essenciais da oração principal (sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, predicativo ou aposto). Ao contrário do pronome relativo, a conjunção integrante não retoma um termo anterior.

A conjunção integrante “que” é indispensável para a formação de frases complexas onde uma oração complementa o sentido de outra, atuando como um “elo” fundamental para a estrutura sintática. É comum observá-lo após verbos de desejo, percepção, certeza ou dúvida, como em “Espero que você venha”. Aqui, “que você venha” é o objeto direto do verbo “espero”.

A diferenciação entre o “que” pronome relativo e o “que” conjunção integrante é crucial e muitas vezes gera dúvidas entre estudantes preparando-se para o Enem. A principal dica é que, como conjunção integrante, a oração introduzida por “que” pode ser substituída por “isso”, “isto” ou “aquilo”, sem alteração de sentido. Por exemplo, em “Espero isso.” a troca é perfeitamente possível.

O correto entendimento desta função permite construir sentenças mais robustas e expressar ideias abstratas com maior precisão. É uma peça fundamental na estrutura do português que possibilita a articulação de pensamentos e sentimentos em um formato gramaticalmente coeso e claro, reforçando a importância do estudo das funções do que.

O “que” como conjunção coordenativa explicativa

Dentre as múltiplas funções do que, ele pode também atuar como conjunção coordenativa explicativa. Nesse papel, o “que” é utilizado para introduzir uma oração que oferece uma explicação ou justificativa para a oração anterior, ligando-as de forma lógica e sequencial. Geralmente, essa oração explicativa vem precedida de vírgula.

É comum encontrar o “que” explicativo após um imperativo ou uma afirmação que requer um esclarecimento. Por exemplo, na frase “Venha logo, que a aula vai começar”, o “que” introduz a razão pela qual a pessoa deve vir logo. Ele estabelece uma relação de causa e consequência ou de justificativa entre as duas partes da sentença.

Nesse contexto, o “que” pode ser substituído por outras conjunções explicativas, como “porque”, “pois” (quando posposto ao verbo) ou “já que”, sem que haja prejuízo no sentido da frase. Essa equivalência é um bom indicador para identificar a função explicativa do termo em questão.

A clareza na exposição de ideias é grandemente beneficiada por essa função do que. Permite ao escritor ou falante adicionar nuances e justificativas, tornando a comunicação mais completa e convincente. É um recurso valioso para a construção de argumentos e para a expressão de raciocínios encadeados de maneira fluida.

O “que” como conjunção coordenativa aditiva

A versatilidade da palavra “que” se manifesta ainda quando ela assume a função do que como conjunção coordenativa aditiva. Embora seja menos comum que outras conjunções aditivas como “e” ou “nem”, o “que” pode ligar orações ou termos que expressam adição, especialmente em construções repetitivas.

Um exemplo clássico dessa utilização é em expressões como “ele trabalha que trabalha” ou “chove que chove”. Nestes casos, o “que” não apenas liga as duas ocorrências do verbo, mas também intensifica a ideia de continuidade ou repetição da ação. Ele adiciona um valor semântico de persistência ou abundância ao verbo.

Essa função do que é particular e muitas vezes estilística, contribuindo para dar ênfase à ação ou ao estado descrito. Ela se diferencia de outras conjunções aditivas por geralmente estar inserida em uma estrutura de repetição do verbo ou de um adjetivo, como em “Pobre que pobre, sempre luta”.

Embora possa ser considerado um uso mais coloquial ou enfático, reconhecer o “que” como conjunção aditiva é importante para compreender a totalidade de suas funções do que. Ajuda a analisar a riqueza expressiva da língua portuguesa e a identificar as nuances que um simples monossílabo pode carregar em diferentes contextos.

O “que” como partícula expletiva ou de realce

Entre as diversas funções do que, uma bastante peculiar é quando ele atua como partícula expletiva ou de realce. Nesses casos, o “que” não possui uma função sintática essencial na oração e sua remoção não alteraria o sentido fundamental da frase, mas serve para enfatizar uma ideia, um sentimento ou uma ação.

Essa partícula é frequentemente encontrada em construções onde se deseja intensificar uma exclamação ou dar maior vivacidade a uma expressão. Por exemplo, em “Que frio que faz hoje!”, o segundo “que” pode ser retirado sem comprometer a compreensão, mas sua presença reforça o sentimento de intensidade do frio. Outro exemplo comum é “Faz anos que não o vejo”, onde o “que” realça o período de tempo.

A identificação do “que” como expletivo requer atenção, pois sua ausência não causa incorreção gramatical, mas a sua presença adiciona uma camada de expressividade. Ele é um recurso estilístico que o falante ou escritor utiliza para chamar a atenção para um determinado elemento da frase ou para imprimir um tom mais enfático.

Entender esta função do que é valioso para a interpretação de textos literários e para a produção de discursos com maior impacto emocional. Embora não seja sintaticamente obrigatório, seu papel no realce e na ênfase é inegável, mostrando a capacidade do “que” de ir além da mera conexão gramatical.

O “que” como pronome interrogativo

Uma das funções do que mais diretas e fáceis de identificar é quando ele se apresenta como pronome interrogativo. Nesse papel, o “que” é utilizado para formular perguntas diretas ou indiretas, buscando informações sobre algo não especificado. Ele sempre se refere a coisas ou ideias, e não a pessoas.

Em perguntas diretas, o “que” geralmente aparece no início da frase, como em “Que você quer para o jantar?”. Nestes casos, a interrogação é explicitada pelo ponto de interrogação no final da frase. Em perguntas indiretas, ele introduz uma oração interrogativa sem o ponto de interrogação, como em “Gostaria de saber que caminho devemos seguir”.

Quando o “que” atua como pronome interrogativo, ele pode vir acompanhado de preposição, dependendo da regência do verbo ou nome da oração. Por exemplo: “A que você se refere?” ou “Com que material você trabalhou?”. Sua função é sempre a de questionar ou indagar sobre algo, seja de forma explícita ou implícita.

Essa função do que é essencial para a comunicação diária, permitindo a obtenção de informações e a interação em diálogos. Sua clareza e precisão na formulação de perguntas o tornam uma ferramenta linguística indispensável para a curiosidade e o aprendizado, sendo uma das primeiras funções do que que aprendemos a usar na língua.

O “que” como pronome indefinido

Em algumas situações, a palavra “que” pode assumir a função do que como pronome indefinido. Embora não seja um uso tão frequente quanto outros pronomes indefinidos (como “tudo”, “nada”, “alguém”), ele aparece em construções específicas para expressar uma ideia de generalidade ou de quantidade indeterminada.

Normalmente, o “que” pronome indefinido é encontrado em frases exclamativas ou interrogativas, geralmente acompanhado de um substantivo ou adjetivo, e pode ser substituído por “quanto” ou “quão”, indicando grau ou intensidade. Um exemplo é “Que beleza! Quantas flores!”. Ele realça a intensidade da beleza.

Outro uso como pronome indefinido ocorre em expressões como “Ele tem um não sei que de mistério”, onde “não sei que” significa “algo indefinido”. Aqui, ele não se refere a um elemento específico, mas a uma qualidade ou característica vaga.

A identificação do “que” como pronome indefinido é crucial para a compreensão das nuances expressivas da língua. Ele permite ao falante ou escritor introduzir um elemento de indeterminação ou generalidade, adicionando uma camada de significado que não seria possível com um pronome definido. Isso demonstra a profunda flexibilidade das funções do que.

O “que” como advérbio de intensidade

A palavra “que” também pode desempenhar a função do que como advérbio de intensidade. Nesse papel, ele modifica um adjetivo, um advérbio ou um verbo, conferindo-lhes um grau maior ou menor de intensidade. É um uso bastante comum em exclamações ou frases que expressam surpresa.

Quando “que” atua como advérbio de intensidade, ele pode ser substituído por “quão”, “tão” ou “muito”, mantendo o sentido de intensificação. Por exemplo, na frase “Que inteligente ele é!”, o “que” intensifica o adjetivo “inteligente”, expressando a admiração pela inteligência da pessoa.

Este uso adverbial do “que” é característico de frases exclamativas, onde ele geralmente antecede o termo que está intensificando. É uma forma eficaz de expressar emoção, surpresa ou admiração de maneira concisa e impactante. A pontuação exclamativa no final da frase reforça essa função.

Compreender esta função do que é importante para interpretar corretamente o tom e a emoção veiculados por uma sentença. Permite ao leitor perceber a ênfase que o autor deseja dar a uma determinada característica ou ação, enriquecendo a experiência de leitura e a expressividade na comunicação oral.

O “que” como substantivo

Embora menos frequente, a palavra “que” pode, em certas situações, assumir a função do que como substantivo. Isso ocorre quando o “que” é precedido de um artigo ou de outro determinante, indicando que a palavra em si está sendo tratada como um nome, um objeto de referência ou uma categoria gramatical.

Um exemplo claro é na frase “O que você disse foi fundamental”. Aqui, “o que” funciona como um substantivo, referindo-se à “coisa que” foi dita. Outro caso é quando nos referimos à própria palavra “que” como um termo, como em “O ‘que‘ é uma palavra polissêmica”. Nesse contexto, “que” é o sujeito da oração.

Nestas ocorrências, o “que” pode ser substituído por “o fato”, “a coisa”, “a palavra”, ou outro substantivo equivalente, dependendo do contexto. Sua capacidade de se substantivar mostra a extrema flexibilidade do termo na língua portuguesa, adaptando-se para nomear conceitos ou a si mesmo.

Essa função do que é uma prova da dinamicidade do português, onde uma palavra pode transitar entre diferentes classes gramaticais conforme o uso e o contexto. Reconhecer o “que” substantivado é essencial para uma análise gramatical completa e para a valorização de todas as suas nuances expressivas.

O “que” como preposição

Por fim, uma das funções do que mais raras e que frequentemente passa despercebida é quando ele atua como preposição. Esse uso é muito específico e ocorre em construções em que o “que” substitui a preposição “de”, especialmente antes de um infinitivo verbal, em estruturas que expressam comparação ou consequência.

Um exemplo clássico dessa ocorrência é na frase “Ele tem mais que fazer do que ficar aqui”. Nesse caso, o “que” assume o papel da preposição “de”, sendo possível substituir a frase por “Ele tem mais de fazer do que ficar aqui”. Outro exemplo é “Tive de pedir-lhe mais que uma vez”, onde o “que” substitui “de” antes de um numeral.

Este uso preposicional é uma particularidade da língua e não deve ser confundido com a conjunção comparativa. A chave para identificá-lo é a possibilidade de substituição por “de” sem alteração do sentido ou da correção gramatical da frase, geralmente em contextos que envolvem comparativos ou expressões de quantidade.

Apesar de sua raridade, conhecer esta função do que enriquece a compreensão da morfologia e sintaxe do português, revelando a complexidade e as múltiplas camadas de significado que uma única palavra pode agregar. É um testemunho da riqueza e das sutilezas que caracterizam a nossa língua.

Compreender as múltiplas funções do que é uma jornada fascinante pela gramática da língua portuguesa. Da conexão de orações como pronome relativo ou conjunção integrante, passando pela intensificação de ideias como advérbio ou partícula de realce, até seus usos mais específicos como pronome interrogativo, indefinido, substantivo e até preposição, a palavra “que” se revela um elemento de notável versatilidade. Seu domínio aprimora a clareza e a expressividade, permitindo uma comunicação mais rica e precisa.

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