A concordância verbal com a expressão “um dos que” é um dos tópicos que frequentemente geram dúvidas na língua portuguesa. É comum observar a utilização tanto no singular quanto no plural, e a gramática normativa permite ambas as formas, embora com nuances importantes.
Para compreender a fundo essa flexibilidade, é fundamental analisar a estrutura da própria expressão um dos que e a intenção comunicativa por trás de sua aplicação. A escolha de usar a concordância um dos que no singular ou no plural dependerá, em grande parte, da ênfase que se deseja dar na frase.
O que você vai ler neste artigo:
A dinâmica de “um dos que” na concordância verbal
A expressão um dos que é composta por dois elementos principais que influenciam a concordância do verbo. O primeiro é o pronome ou numeral “um”, que aponta para um indivíduo específico dentro de um grupo. O segundo, “dos que”, refere-se a um coletivo, indicando que esse indivíduo faz parte de um conjunto de elementos que praticam determinada ação ou possuem certa característica.
Historicamente, essa ambiguidade gerou debates entre gramáticos, mas hoje há um consenso sobre a aceitabilidade de ambas as construções. A decisão sobre a regra um dos que repousa, em última análise, na interpretação do que se quer destacar: a individualidade ou a coletividade.
Para muitos, a complexidade reside em determinar qual elemento da frase, “um” ou “os que”, deve prevalecer como antecedente direto do verbo. É essa dualidade que abre espaço para as duas formas de concordância verbal.
A concordância no plural: a opção mais enfatizada
A concordância verbal com um dos que no plural é a forma mais recomendada pela maioria dos gramáticos e é a mais frequente em textos formais. Essa preferência baseia-se na ideia de que o antecedente do pronome relativo “que” são “os” (implícito em “dos”). Assim, o verbo concorda com o grupo de indivíduos que praticam a ação.
Ao utilizar o plural, o falante ou escritor enfatiza que a ação não foi realizada apenas por “um”, mas por todos aqueles que fazem parte do grupo ao qual “um” pertence. Há uma valorização da participação coletiva, indicando que “um” é apenas um membro entre vários que executam a mesma ação.
Essa construção é percebida como mais natural na maioria dos contextos, pois reflete a lógica de que “um” é apenas parte de “muitos que” realizam algo. Por exemplo, dizer “Ele foi um dos que mais contribuíram para o projeto” destaca que houve múltiplos colaboradores e que ele foi um deles.
Exemplos da concordância plural com “um dos que”
Vejamos alguns exemplos claros que ilustram a preferência pela concordância no plural:
- “Ele foi um dos que mais contribuíram para o sucesso da equipe.” (Aqui, a ênfase é nos vários que contribuíram, e ele é um deles.)
- “Brigitte Bardot foi um dos maiores ícones sensuais que existiram.” (O foco está nos diversos ícones que existiram, e ela é parte desse grupo.)
- “Aquele aluno é um dos que sempre chegam atrasados à aula.” (Refere-se a um grupo de alunos que, consistentemente, atrasam.)
- “Nossa cidade é um dos lugares que mais cresceram na última década.” (Indica que diversos lugares cresceram, e a cidade é um deles.)
Em todos esses casos, a ação é atribuída ao grupo (“os que”), e o indivíduo “um” é apenas um dos participantes.
A concordância no singular: enfatizando a individualidade
Embora menos comum e por vezes questionada, a concordância verbal com um dos que singular é gramaticalmente aceita e pode ser empregada para destacar a ação individual de “um” em detrimento do grupo. Neste caso, o foco recai no “um” como o antecedente mais direto do verbo, mesmo que esteja dentro de um conjunto.
A lógica por trás dessa escolha é realçar a particularidade do indivíduo, como se ele fosse o único ou o principal entre os demais a ter realizado a ação. Contudo, essa nuance é sutil e requer uma intenção comunicativa muito clara para ser utilizada sem causar estranhamento.
É importante frisar que, ao optar pelo singular, o escritor quer sublinhar a exclusividade ou a relevância daquele “um”, mesmo que haja outros. “Ele foi um dos que mais contribuiu” sugere que, entre os que contribuíram, ele se destacou de alguma forma, recebendo uma atenção individualizada.
Casos específicos da concordância singular com “um dos que”
A concordância no singular pode ser utilizada em situações onde se deseja dar um peso maior ao sujeito “um”:
- “Ele foi um dos que mais contribuiu com ideias inovadoras no departamento.” (Pode-se querer realçar o seu mérito específico, mesmo havendo outros contribuintes.)
- “Brigitte Bardot foi um dos maiores ícones sensuais que existiu em sua época.” (O verbo no singular pode acentuar a ideia de que ela foi o grande ícone, destacando-a do grupo.)
- “Aquele jogador é um dos que mais se esforçou durante o campeonato, apesar do resultado.” (A ênfase recai no esforço individual dele, que pode ter sido exemplar.)
- “Este projeto é um dos que mais surpreendeu a diretoria pela sua originalidade.” (O foco é na originalidade deste projeto em particular, entre outros que surpreenderam.)
Nestes contextos, a escolha pelo singular tenta singularizar a ação, diferenciando o “um” dos demais membros do grupo.
Análise comparativa e a intenção comunicativa
A decisão entre singular e plural com um dos que não é meramente uma questão de regra, mas de estilo e de intenção comunicativa. Ambas as formas são corretas, mas transmitem ênfases distintas. A concordância verbal reflete a perspectiva do autor.
Quando se opta pelo plural, a mensagem é de que o indivíduo “um” é mais um entre outros que participaram da ação. É uma visão coletiva. Por outro lado, o singular busca dar um destaque especial ao “um”, individualizando a ação ou característica, como se houvesse uma singularidade ou um papel preponderante daquele elemento.
Portanto, a escolha deve ser consciente, baseada no que o comunicador deseja realçar. Para evitar dúvidas ou interpretações ambíguas, especialmente em contextos formais, a forma plural ainda é a mais segura e amplamente aceita.
Recomendações dos especialistas para “um dos que”
A maioria dos gramáticos e manuais de estilo, ao abordar a concordância verbal da expressão “um dos que”, tende a recomendar o uso do plural. Essa recomendação baseia-se na clareza e na fluidez da linguagem, além de ser a forma que historicamente se consolidou como a mais comum no português padrão.
O plural é visto como a opção que menos gera questionamentos e que mais naturalmente se alinha com a ideia de que “um” é apenas uma parte de “muitos”. Para textos jurídicos, acadêmicos ou jornalísticos, onde a precisão é crucial, a concordância plural com “um dos que” é a escolha mais prudente.
Em suma, embora a gramática permita ambas as construções, a concordância do verbo no plural é a forma mais aceita e recomendada para a expressão um dos que. Ela enfatiza a ação coletiva, alinhando-se com a ideia de que “um” faz parte de um grupo que realiza algo. O singular, por sua vez, é aceitável quando a intenção é destacar a individualidade, mas deve ser usado com cautela, dada a sua menor frequência e o risco de parecer menos natural em determinados contextos. A decisão final dependerá sempre da ênfase que se pretende conferir à mensagem.
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