A língua portuguesa, com suas nuances e particularidades, frequentemente apresenta desafios até mesmo para os falantes mais experientes. Uma das dúvidas mais comuns reside na escolha entre de mais ou demais, gerando confusão na escrita e na comunicação.
Compreender a distinção entre essas duas expressões é fundamental para garantir a clareza e a correção gramatical em diversos contextos. Este artigo se propõe a desvendar essa questão, oferecendo exemplos práticos e regras claras para estudantes que buscam dominar a gramática portuguesa.
O que você vai ler neste artigo:
A essência da diferença: de mais ou demais
A distinção fundamental entre de mais ou demais reside em sua função gramatical e no sentido que cada um confere à frase. Embora ambos possam, à primeira vista, sugerir a ideia de excesso ou grande quantidade, o uso correto depende da estrutura e do significado preciso que se deseja transmitir. Ignorar essa diferença pode levar a interpretações equivocadas e erros gramaticais.
“Demais” (escrito junto) é predominantemente um advérbio de intensidade ou um pronome indefinido, enquanto “de mais” (escrito separado) configura-se como uma locução adverbial de quantidade. Essa separação, embora sutil na sonoridade, carrega um peso significativo na semântica da frase.
Uma regra prática e eficaz para diferenciar as duas formas é tentar substituir a expressão por “de menos” ou “a menos”. Se a substituição fizer sentido e mantiver a coerência da frase, o correto será “de mais”. Caso contrário, e se a ideia for de excesso absoluto ou referir-se a “os outros”, a opção é “demais”. Essa técnica simplifica bastante a escolha, ajudando a evitar equívocos frequentes na hora de decidir entre de mais ou demais.
Outro ponto crucial é a regência. “De mais” geralmente está ligado a um substantivo ou verbo que expressa quantidade e é acompanhado da preposição “de”, indicando uma adição quantificável. “Demais”, por sua vez, age de forma mais independente, modificando verbos, adjetivos ou até mesmo substituindo pronomes.
Quando usar “demais”: advérbio e pronome
A forma “demais”, grafada junta, possui duas principais aplicações na gramática portuguesa, cada uma com seu próprio significado e contexto de uso. Compreender essas aplicações é crucial para dominar a utilização de de mais ou demais sem erros.
“Demais” como advérbio de intensidade
Quando empregado como advérbio de intensidade, “demais” significa “em excesso”, “muito” ou “demasia”. Nesse caso, ele modifica um verbo, um adjetivo ou outro advérbio, intensificando a ideia que eles expressam. A sua função é realçar a intensidade de uma ação ou característica.
Por exemplo, ao dizer “Ele comeu demais“, a intenção é comunicar que a pessoa comeu em excesso, indo além do que seria considerado normal ou apropriado. Da mesma forma, em “Estou feliz demais“, “demais” intensifica o adjetivo “feliz”, indicando um estado de grande alegria.
Nesses cenários, tentar substituir “demais” por “de menos” não faria sentido, confirmando o uso da forma unida. “Ele comeu de menos” tem um significado oposto, mas não segue a mesma estrutura de excesso que “comeu demais” implica. A locução “de mais” não se encaixaria aqui, pois não se trata de uma quantidade adicional de algo, mas sim da intensidade de uma ação.
“Demais” como pronome indefinido
Além de sua função adverbial, “demais” também pode atuar como pronome indefinido. Nesse papel, significa “os outros”, “os que restam” ou “o restante”. Ele é utilizado para se referir a pessoas ou coisas que não foram mencionadas anteriormente, distinguindo-as de um grupo já citado.
Um exemplo claro é: “Os demais convidados chegaram tarde”. Aqui, “demais” substitui e se refere aos convidados que ainda não haviam chegado, distinguindo-os daqueles que já estavam presentes. A frase poderia ser reescrita como “Os outros convidados chegaram tarde”, mantendo o mesmo sentido.
Outra situação é: “Todos já saíram, os demais podem ir agora”. Novamente, “demais” aponta para as pessoas restantes no grupo, indicando que elas também têm permissão para sair. Este uso é muito comum em contextos formais e informais, sempre com o sentido de “os que sobraram”.
Desvendando “de mais”: a locução adverbial
A expressão “de mais”, escrita separadamente, funciona como uma locução adverbial de quantidade. Sua principal característica é indicar uma quantidade adicional, um excesso mensurável ou algo “a mais” em um sentido numérico ou quantificável. Esta é a grande distinção de de mais ou demais no campo da gramática.
Quando utilizamos “de mais”, estamos geralmente nos referindo a algo que está em maior quantidade do que o necessário, o esperado ou o habitual. Frequentemente, a expressão é o oposto direto de “de menos” ou “a menos”, o que reforça sua natureza quantitativa.
Considere a frase: “Ela colocou açúcar de mais no café”. Aqui, a expressão “de mais” especifica que a quantidade de açúcar adicionada excedeu o que seria ideal ou o que ela costuma usar. É uma quantidade que pode ser imaginada, como “açúcar a mais”. Se pudéssemos dizer “açúcar de menos”, a inversão manteria o sentido de quantidade.
Outro exemplo pertinente é: “Não tinha nada de mais naquele vestido”. Neste caso, “de mais” não se refere a um excesso físico, mas sim a uma ausência de características adicionais, ou seja, nada de extraordinário ou especial. A expressão significa “nada a mais” do que o comum.
É importante notar que “de mais” geralmente vem acompanhado de um substantivo ou advérbio, e a preposição “de” estabelece uma relação de dependência. Em “dinheiro de mais” ou “problemas de mais”, a locução adverbial complementa a ideia de quantidade excessiva do substantivo a que se refere.
Dicas práticas para não confundir de mais ou demais
Dominar a utilização correta de de mais ou demais pode parecer desafiador no início, mas com algumas dicas práticas e a compreensão das regras, a clareza na escrita se torna acessível. A chave está em analisar o contexto e a função que a expressão desempenha na frase.
A técnica de substituição por “de menos” é a ferramenta mais poderosa para diferenciar essas duas formas. Se a frase fizer sentido ao usar “de menos”, então o correto é “de mais”. Por exemplo, em “Ele tem comida de mais“, podemos dizer “Ele tem comida de menos”, logo, “de mais” é a forma adequada. Contudo, em “Ele fala demais“, não podemos substituir por “fala de menos” (no sentido de excesso de fala), o que confirma o uso de “demais”.
É válido reforçar que “demais” se refere a um excesso absoluto ou aos “outros”. Pense em “muito” ou “em demasia” para o advérbio, e “o restante” ou “os que sobram” para o pronome. Já “de mais” implica uma quantidade adicional ou sobrando em relação a um padrão, e sempre poderá ser contrastado com “de menos”.
Para uma visualização rápida e eficaz, a tabela a seguir resume as principais diferenças, consolidando o conhecimento sobre de mais ou demais – conceitos frequentemente cobrados em questões de língua portuguesa do Enem:
Palavra | Função | Significado | Exemplo |
---|---|---|---|
Demais | Advérbio de intensidade / Pronome indefinido | Em excesso, muito / os outros | Ela brinca demais. / Os demais saíram. |
De mais | Locução adverbial de quantidade | A mais, em quantidade adicional | Ele tem dinheiro de mais. / Tem açúcar de mais. |
Ao praticar com exemplos variados e aplicar a regra da substituição, a decisão entre de mais ou demais se tornará intuitiva. A atenção ao contexto da frase e a função gramatical pretendida são os pilares para uma comunicação precisa e gramaticalmente correta.
Para aprofundar seus estudos sobre figuras de linguagem e outros aspectos da língua portuguesa, é essencial compreender que cada elemento gramatical possui sua função específica no texto.
Em suma, a correta aplicação de de mais ou demais exige atenção ao contexto e à função gramatical de cada expressão. Ao lembrar que “demais” indica excesso ou “os outros”, e “de mais” se refere a uma quantidade adicional, o falante garante a precisão em sua comunicação. Dominar essas nuances eleva a qualidade da escrita e da expressão oral, permitindo uma comunicação mais eficaz e sem ambiguidades – habilidades essenciais para quem se prepara para vestibulares e o Enem.
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