Reforço anafórico com mesmo e próprio: quando e como usar

Aprimorar a coesão textual e a clareza da mensagem é uma meta constante na escrita, e o reforço anafórico desempenha um papel fundamental nesse processo. Ao empregar “mesmo” e “próprio”, é possível retomar termos anteriores com uma ênfase particular, qualificando a referência e evitando repetições desnecessárias.

Este recurso linguístico permite não apenas a reconexão com elementos já citados, mas também a atribuição de uma identidade ou autoria mais marcada. A distinção entre o uso adequado e o inadequado de norma culta e “mesmo” e “próprio” é crucial para garantir a adesão às regras gramaticais e a fluidez do texto.

O que é reforço anafórico e a função de ‘mesmo’ e ‘próprio’

O reforço anafórico é um mecanismo essencial da coesão textual que consiste em retomar um elemento já mencionado no discurso, garantindo a progressão temática sem perder a referência. Nesse contexto, as palavras “mesmo” e “próprio” surgem como pronomes demonstrativos que cumprem essa função com um toque adicional de ênfase.

Eles não apenas apontam para o antecedente, mas também reforçam sua identidade, sua autoria ou sua exclusividade na ação. Quando utilizados para tal fim, “mesmo” e “próprio” assumem o sentido de “em pessoa”, “exatamente”, “idêntico” ou “autêntico”. Isso significa que a entidade retomada é, de fato, aquela que realiza a ação ou possui a característica em questão, sem qualquer intermediação ou substituição.

A intenção é sublinhar que se trata da mesma pessoa ou coisa, ou da própria entidade, e não de uma similar ou representante. É importante ressaltar que, nessa função, tanto “mesmo” quanto “próprio” devem concordar em gênero e número com o substantivo ou pronome a que se referem.

Essa variação gramatical é crucial para a correção e para a clareza da retomada, estabelecendo uma conexão inequívoca entre o termo anafórico e seu antecedente. Exemplos claros incluem “A professora mesma corrigiu as provas” ou “Os alunos próprios organizaram a festa”, onde a identidade dos agentes é reforçada.

Essas construções contribuem significativamente para a coesão textual, pois ligam frases e ideias de maneira orgânica, facilitando a compreensão do leitor. O uso de mesmo e próprio, ao invés de uma mera repetição do substantivo, eleva o nível da escrita, conferindo-lhe precisão e elegância, marcas de uma boa comunicação jornalística e acadêmica.

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Quando aplicar o reforço anafórico corretamente

A aplicação adequada do reforço anafórico com “mesmo” e “próprio” ocorre em situações onde a intenção é precisamente enfatizar a identidade, a autoria ou a exclusividade de um antecedente já estabelecido no texto. Não se trata de uma simples substituição para evitar a repetição, mas sim de uma escolha estilística e semântica para atribuir maior força à referência.

O objetivo é destacar que a ação foi realizada pela própria pessoa ou entidade mencionada, sem a ajuda de terceiros ou por representação. Um dos contextos mais comuns e apropriados para o uso de mesmo e próprio como reforço anafórico é em construções que indicam autonomia ou a capacidade intrínseca de algo ou alguém.

Frases como “por si mesma” ou “por si própria” são exemplares nesse sentido. Por exemplo, ao afirmar que “A máquina, por si mesma, realizou o reparo”, a ênfase recai sobre a capacidade do equipamento de operar autonomamente, sem intervenção externa.

Consideremos, ainda, situações em que a surpresa ou a incredulidade em relação à autoria de uma ação é um elemento-chave. Dizer “Ele próprio confessou o crime” não apenas informa que a confissão ocorreu, mas sublinha o fato de ter sido o acusado em pessoa, e não um advogado ou uma testemunha, a fazê-lo.

Essa nuance é vital para a expressividade da linguagem e para a precisão da informação. Para garantir o emprego correto, é fundamental que o reforço esteja alinhado com o contexto e a intenção comunicativa. Se o objetivo é apenas retomar um termo sem adicionar essa camada de ênfase, outros pronomes ou estruturas sintáticas podem ser mais adequados.

Armadilhas a evitar no uso do reforço anafórico

Apesar de sua utilidade no reforço anafórico, o emprego de “mesmo” e “próprio” é frequentemente alvo de equívocos, especialmente em textos formais, como os jurídicos e administrativos. A principal armadilha a ser evitada é a substituição indiscriminada desses termos por pronomes pessoais ou artigos em situações onde não há a intenção de ênfase.

Essa prática, embora comum, é considerada inadequada pela norma culta e compromete a naturalidade e a elegância da escrita. É um erro gramatical e estilístico utilizar “o mesmo” ou “a mesma” simplesmente para retomar um substantivo, quando um pronome pessoal como “ele”, “ela”, “eles”, “elas” ou até mesmo um demonstrativo mais simples, como “este” ou “esse”, seria mais apropriado.

O problema reside no fato de que “mesmo” e “próprio” são partículas de reforço; quando usados sem essa função específica, criam uma artificialidade e uma desnecessária formalidade que podem dificultar a leitura e a compreensão.

Para ilustrar essa questão, considere a frase inadequada: “A advogada conversou com a cliente, e a mesma confirmou os fatos”. Neste caso, o uso de “a mesma” é incorreto. A forma gramaticalmente mais aceitável e natural seria: “A advogada conversou com a cliente, e ela confirmou os fatos”. O pronome “ela” cumpre perfeitamente a função de retomada sem a necessidade de um reforço que não se aplica ao contexto.

Outro exemplo corriqueiro de uso equivocado é: “Antes de sair, verifique se o mesmo está trancado”. Aqui, a melhor opção seria: “Antes de sair, verifique se ele está trancado” ou “verifique se o portão está trancado”, se o referente for claro.

O reforço anafórico é uma ferramenta valiosa, mas sua aplicação requer uma compreensão clara de sua função enfática. Ignorar essa distinção leva a construções deselegantes e distantes da norma culta. A atenção a esses detalhes é fundamental para aprimorar a coesão textual e a qualidade geral da comunicação.

Em suma, o reforço anafórico com “mesmo” e “próprio” é uma ferramenta poderosa para aprimorar a coesão textual e a expressividade, desde que empregado com discernimento. Seu valor reside na capacidade de enfatizar a identidade ou a autoria de um antecedente, conferindo precisão e nuance ao discurso.

Contudo, é crucial evitar o uso inadequado desses termos como simples substitutos de pronomes pessoais, uma prática que desvirtua sua função e contraria a norma culta. Ao aplicar o uso de mesmo e próprio corretamente, o escritor garante clareza, naturalidade e elegância, pilares de uma comunicação eficaz.

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