A proposta de redação do Enem 2025, aplicada em Belém (PA), levantou um tema que traz à tona uma parcela essencial, mas pouco visibilizada da sociedade brasileira: os trabalhadores rurais. Esses profissionais seguem invisíveis diante de tantos debates sobre economia e produtividade.
Mesmo sendo responsáveis diretos pela produção de alimentos e pelo funcionamento de cadeias que abastecem cidades e exportam produtos, o reconhecimento social e institucional desses trabalhadores ainda é escasso.
O que você vai ler neste artigo:
Invisibilização histórica e social
Ao longo da história brasileira, a figura do trabalhador rural foi frequentemente diminuída por políticas públicas, pelo processo de urbanização acelerado e pela concentração fundiária. A transição para um país majoritariamente urbano contribuiu para afastar o brasileiro médio das realidades do campo, facilitando a marginalização desse grupo.
A invisibilização também é potencializada por um modelo de produção focado em grandes propriedades mecanizadas, voltadas ao agronegócio de exportação, em detrimento da agricultura familiar. Essa dualidade revela desigualdades profundas dentro do próprio setor rural.
Para além das estatísticas, a desvalorização se comprova na falta de acesso a direitos básicos, como saúde especializada, educação voltada à realidade rural e segurança no trabalho. Em regiões isoladas, as jornadas exaustivas e informais ainda são uma condição recorrente.
Além disso, o protagonismo de influenciadores digitais e grandes produtores nos debates sobre política agrícola deixa de lado os milhões de trabalhadores que fazem a base dessa estrutura. O foco na produtividade e na rentabilidade tende a ocultar os problemas enfrentados por quem vive e trabalha na terra.
Contribuição econômica e social
Apesar da falta de atenção midiática e política, os trabalhadores rurais têm papel determinante na segurança alimentar do país. A agricultura familiar representa cerca de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, segundo dados do IBGE.
Além disso, o setor rural emprega milhões de brasileiros, com destaque para regiões como Norte e Nordeste, onde a dependência da produção local é ainda maior. O trabalhador rural é um elo central entre o ciclo econômico e a sustentabilidade dos territórios em que está inserido.
A atuação desses profissionais também está diretamente associada à manutenção de práticas tradicionais de cultivo, à preservação de biomas e à transmissão de saberes culturais importantes na construção da identidade brasileira — especialmente de comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas.
Contudo, a ausência de políticas contínuas de valorização, inclusão digital e amparo previdenciário expõe esses trabalhadores a situações de vulnerabilidade. Questões como trabalho análogo à escravidão e exploração juvenil precisarão ser enfrentadas com seriedade e efetividade.
Desafios e propostas de valorização
Avançar na valorização dos trabalhadores rurais exige políticas públicas específicas que dialoguem com as necessidades reais do campo. Medidas eficazes podem incluir:
- Estímulo à reforma agrária, visando democratizar o acesso à terra;
- Fortalecimento da agricultura familiar com assistência técnica e linhas de crédito;
- Criação de políticas de educação contextualizada no meio rural;
- Adoção de estratégias de segurança do trabalho no campo;
- Inclusão digital e acesso à internet de qualidade;
- Fiscalização rigorosa contra o trabalho escravo contemporâneo.
Essas ações, somadas à valorização simbólica e cultural do papel do trabalhador rural, podem pavimentar um caminho de verdadeira inclusão social. Reconhecê-los não apenas como força de trabalho, mas como guardiões da produção sustentável e da soberania alimentar, é um avanço necessário.
A valorização demanda sociedade, governos e mídia comprometidos em promover uma nova narrativa sobre os protagonistas do campo. Trata-se de uma mudança de olhar, que só será possível por meio do enfrentamento de desigualdades estruturais.
Dimensões políticas, culturais e ambientais
A valorização do trabalhador rural também passa por reconfigurar o debate sobre o campo como espaço de vida e diversidade, onde se entrelaçam aspectos ambientais, sociais e políticos. O incentivo à agroecologia, ao cooperativismo e à economia solidária favorece a autonomia desses trabalhadores.
Por outro lado, é preciso reconhecer que muitos trabalhadores vivem à margem de decisões políticas que os afetam diretamente, sendo excluídos de conselhos, audiências e processos participativos. A construção de espaços de escuta e deliberação pode contribuir para mudar esse cenário.
Outro ponto essencial refere-se à informação e à comunicação. Programas de rádio comunitária, aplicativos voltados ao campo e campanhas educativas podem servir de instrumentos de valorização, fortalecendo os vínculos entre o rural e o urbano.
A discussão proposta pela redação do Enem 2025, portanto, ultrapassa a mera constatação da existência de desigualdade. Ela exige uma reflexão ampla sobre como o Brasil ainda negligencia os pilares humanos da sua produção e como pode reverter esse quadro por meio de ações concretas.
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