Repertórios de bolso são referências decoradas, genéricas e amplamente repetidas por estudantes em redações, especialmente no Enem, com o objetivo de parecerem cultos ou bem preparados.
Geralmente, essas citações não possuem uma conexão real com o tema proposto e são aplicadas de forma automática, o que compromete a originalidade do texto e o pensamento crítico do candidato.
A nova Cartilha de Redação do Enem 2025, divulgada pelo Inep, destacou que o uso desses repertórios será penalizado na Competência II, que avalia a capacidade do aluno de mobilizar saberes socioculturais relevantes, pertinentes e articulados ao argumento desenvolvido no texto.
O que você vai ler neste artigo:
Motivos que levaram à proibição dos repertórios de bolso
O principal fator que motivou o alerta do Inep foi a saturação e o uso recorrente de autores emblemáticos e ideias universais, como a "Utopia" de Thomas More ou o conceito de "instituições zumbis" de Zygmunt Bauman, inseridos de forma vaga ou superficial. Isso deteriora a proposta de uma redação autoral e reflexiva.
Além disso, esses repertórios não demonstram compreensão do conteúdo citado. O simples nomear de um pensador ou obra sem contextualização ou sem ligação com a tese defendida mostra apenas memorização, e não domínio sobre o tema.
Outros problemas identificados incluem:
- Generalização de temas: uso de citações que cabem em qualquer enredo dissertativo.
- Ausência de autoria: falta da voz crítica e reflexiva do candidato.
- Repetição excessiva: corretores identificam com facilidade quando o repertório já foi aplicado em diversas redações passadas.
O que caracteriza um repertório de bolso?
Segundo especialistas e o próprio Inep, esses repertórios são marcados por três principais características:
- Simplismo: ausência de explicação e aprofundamento do conteúdo citado;
- Generalidade: podem ser encaixados em qualquer redação, sem considerar o recorte temático;
- Recorrência: amplamente utilizados por grande parte dos candidatos, perdendo o efeito de originalidade.
Por exemplo, utilizar Aristóteles apenas citando que “o homem é um animal político” para qualquer tema social, sem relacionar ao contexto moderno e ao foco da proposta, caracteriza um uso automatizado e superficial.
Como construir repertórios realmente produtivos?
Em vez de recorrer aos modelos prontos, o Enem passa a valorizar repertórios que sejam:
- Pertinentes ao tema desenvolvido;
- Contextualizados com clareza;
- Articulados com a argumentação do texto;
- Capazes de ampliar a compreensão do problema debatido.
Para atingir isso, a nova orientação é incentivar o uso de fontes menos óbvias. Segundo exemplos da própria Cartilha, referências a autores como Maria Firmina dos Reis, Cartola ou Maria Beatriz Nascimento, quando bem explicadas e ligadas ao tema, são vistas como repertórios legítimos e autênticos.
Impacto na preparação para o Enem
A mudança altera profundamente a estratégia dos candidatos. Memorizar citações genéricas perde valor, e torna-se necessário:
- Criar repertórios específicos, organizados por grandes temas (educação, cultura, democracia etc.);
- Fazer conexões entre autores e o contexto do tema proposto;
- Desenvolver a capacidade de explicação e análise críticados conceitos utilizados;
- Utilizar experiências de leitura, filmes, músicas ou fatos históricos de forma relevante e coerente.
Além de enriquecer a escrita, essa abordagem aprimora o senso crítico e a capacidade de argumentar com propriedade. O Inep reforça que todo estudante carrega repertórios vivenciais e acadêmicos, restando apenas aprender a utilizá-los com responsabilidade e criticidade.
Exemplos de mudanças indicadas pela Cartilha
Entre as boas práticas apontadas, destacam-se algumas referências consideradas exemplares:
- Maria Beatriz Nascimento: usada para debater o apagamento da cultura afro-brasileira;
- Maria Firmina dos Reis: destacada como inovação ao romper o padrão eurocêntrico na literatura do século XIX;
- Cartola: inserido como símbolo do esquecimento histórico da arte negra no país.
Esses casos ilustram como um repertório pode se tornar produtivo ao ser bem inserido, contextualizado e associado com clareza à ideia central defendida na redação.
O que evitar a partir de agora
Para não comprometer a nota na Competência II, o estudante deve se afastar de certas práticas:
- Evitar frases prontas e genéricas, independentemente de sua origem;
- Não inserir citações desconectadasdo desenvolvimento do texto;
- Abandonar listas de “autores coringa”usadas como enfeites intelectuais;
- Não repetir fórmulas pré-prontascom os famosos “segredos da nota mil”.
O Enem agora premia redações que apresentam iniciativa autoral, seleção cuidadosa de argumentos e uma construção argumentativa informada por referências verdadeiramente significativas.
Essa mudança sinaliza um avanço no processo avaliativo do Enem, priorizando não apenas o domínio formal da norma culta, mas sobretudo o pensamento crítico, o conhecimento de mundo e o senso de responsabilidade na escrita.
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