Após denúncias de vazamento de questões do Enem 2025, o Inep anunciou mudanças significativas para reforçar a segurança do exame. Com a participação humana na mira, a instituição pretende testar sistemas de inteligência artificial nas etapas de pré-testagem das questões.
Segundo o presidente do Inep, Manoel Palacios, a proposta busca reduzir o número de pessoas envolvidas na elaboração e testagem dos itens e, assim, diminuir o risco de novas fraudes.
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Fraudes motivam mudança com uso de IA
O vazamento de questões do Enem 2025 ocorreu por meio de um esquema articulado por Edcley Teixeira, estudante de Medicina e mentor educacional. Ele incentivava outros jovens a se inscreverem em concursos da Capes com itens do pré-teste e pagava R$ 10 por cada questão decorada. Esses conteúdos, depois, eram usados em seus cursos. A similaridade com as perguntas aplicadas na prova levantou suspeitas nas redes sociais dias após o exame.
Como resultado, o Inep anulou três itens da prova de Matemática e Ciências da Natureza, considerados comprometidos: as questões 123 (fotossíntese), 132 (“grito”) e 174 (parcelamento de R$ 60 mil), conforme a numeração da prova azul. O episódio expôs a fragilidade da etapa do pré-teste, quando os itens são avaliados quanto à dificuldade e capacidade de medir conhecimentos dos candidatos de forma equilibrada.
Como a inteligência artificial será utilizada
De acordo com Palacios, o uso de inteligência artificial visa substituir parte do trabalho feito com cerca de 15 mil estudantes, responsáveis atualmente por testar os itens antes que sejam incluídos no Banco Nacional de Itens (BNI). O novo sistema de IA seria capaz de simular o comportamento de alunos com diferentes níveis de aprendizagem, fornecendo respostas como se fossem reais.
Esse mecanismo digital, porém, não atuaria isoladamente. Ele teria acompanhamento constante de uma equipe de juízes humanos, que avaliariam se a calibragem da IA está adequada e se os resultados são compatíveis com o desempenho esperado dos estudantes brasileiros. O objetivo seria calibrar automaticamente os níveis de dificuldade, identificar chances de acerto ao acaso e medir habilidades corretamente.
Alternativas em análise e os desafios
Além da IA, o Inep também avalia mudar o modelo de aplicação do pré-teste. Uma possibilidade discutida é utilizar as redes de educação já existentes para aplicar os exames de avaliação dos itens, aproveitando a dinâmica natural das escolas públicas e privadas e evitando a inscrição de pessoas envolvidas em possíveis esquemas de vazamento.
Entretanto, essa ideia enfrenta um desafio importante: o engajamento dos alunos. Como explicou Palacios, se os participantes não tiverem um incentivo claro para realizar a prova de maneira séria, os resultados podem refletir desinteresse, o que compromete a análise do desempenho e a efetividade da calibração dos itens.
Sem uma recompensa ou retorno pedagógico, como avaliações que influenciem no histórico escolar ou oferta de bolsas, muitos acabam faltando ou prestando o exame de forma descompromissada. Isso limita a confiabilidade dos dados obtidos, abrindo margem para erros na definição dos itens que entrarão nas próximas provas do Enem.
Entenda o que é o pré-teste de questões
A aplicação do Enem depende de um processo complexo e rigoroso de construção de questões. Após elaboradas, elas são submetidas a diferentes etapas de validação. O pré-teste é a última destas fases antes que a pergunta seja incluída no BNI (Banco Nacional de Itens), e tem como principais objetivos:
- Avaliar o grau de dificuldade da questão (fácil, média ou difícil);
- Verificar seu poder de discriminação (capacidade de distinguir quem domina ou não o conteúdo);
- Estimar a probabilidade de acertos por "chute".
Essas informações são vitais para montar um exame equilibrado, alinhado à Teoria de Resposta ao Item (TRI), utilizada na correção do Enem. Por isso, qualquer falha no sigilo durante essa etapa pode comprometer a isonomia da prova, afetando o desempenho de milhões de estudantes.
Perspectivas para o Enem após o escândalo
Com o avanço tecnológico e os aprendizados de erros recentes, o Inep sinaliza uma modernização urgente na estrutura de elaboração do Enem. Ainda não há data para a implementação definitiva do sistema de IA, mas testes já estão sendo planejados para analisar sua viabilidade.
Ao mesmo tempo, a adoção dessa tecnologia precisará ser acompanhada de mecanismos éticos e de supervisão para não comprometer a diversidade regional e social dos estudantes brasileiros. A inteligência artificial pode desempenhar um papel promissor, desde que seu uso respeite a representatividade e o rigor científico exigidos pelo exame.
Diante desse cenário, mudanças estruturais devem moldar um novo perfil do Enem nos próximos anos, mais seguro e menos vulnerável, mas também mais desafiador para manter sua representatividade nacional e impacto como principal porta de entrada para o ensino superior no Brasil.
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