Uma das questões da prova de Linguagens do Enem 2025, aplicada no primeiro dia do exame, gerou debate entre professores devido à possibilidade de múltiplas respostas corretas. A polêmica gira em torno da pergunta de número 29 da Prova Amarela, cujo foco era discutir a fiscalização constante dos corpos femininos.O enunciado pedia que o candidato identificasse o recurso linguístico usado pela autora do texto para destacar como essa vigilância estética atinge todas as mulheres. A partir disso, duas alternativas acabaram sendo apontadas como viáveis por especialistas.
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Duas interpretações plausíveis
De acordo com o Curso Anglo, as alternativas A e E se sustentam diante da análise textual. A alternativa A afirma que a autora "faz um comentário sobre sua própria imagem", o que indicaria um envolvimento pessoal da autora com o tema tratado no texto. Já a alternativa E, por sua vez, indica que ela "enumera críticas à aparência de mulheres consideradas padrões de beleza".Os dois caminhos interpretativos são sustentáveis. A autora apresenta os casos das atrizes Margot Robbie, taxada como “não bonita o suficiente” para viver a Barbie, e Paolla Oliveira, chamada de “gorda”. Em seguida, menciona a si mesma, o que, segundo os professores, flerta com a abordagem da alternativa A.Ainda assim, a alternativa E parece válida, pois a autora lista exemplos e críticas publicamente dirigidas a figuras conhecidas. Esse uso de repertório ajuda a construir a argumentação sobre a pressão estética sofrida por mulheres, mesmo aquelas que, em tese, representam os próprios padrões midiáticos de beleza.
Análise de especialistas
Eduardo Calbucci, coordenador pedagógico do Anglo, explica que tudo depende da intenção da banca elaboradora. Caso a questão tenha sido formulada com uma abordagem mais direta e acessível, a alternativa E seria a ideal, por sua função objetiva. Entretanto, caso a proposta tenha sido desenhada para exigir inferência mais crítica e sutil, a alternativa A acaba representando melhor a complexidade do texto.Segundo o professor, o fato de a autora mencionar seu próprio corpo ao final fortalece a alternativa A, pois aponta para a generalização da experiência feminina com base também na subjetividade da jornalista que escreve a matéria. Contudo, é fato que a estrutura e ordem argumentativa do texto favorecem primeiro a enumeração de exemplos, o que dá peso à alternativa E.
Dúvidas sobre a formulação da questão
A polêmica destaca uma zona de ambiguidade na elaboração da questão, algo que poderia trazer dificuldades para os candidatos. A expectativa em provas como a do Enem é que exista apenas uma resposta correta entre as opções apresentadas. Quando mais de uma alternativa é considerada viável, há um problema de clareza ou precisão no enunciado ou nas opções.A abordagem crítica do Curso Anglo levanta o alerta: não houve uma formulação que eliminasse definitivamente possíveis ambivalências interpretativas. Para os profissionais, isso mostra que a revisão técnica da questão pode ter falhado, ou que o nível de inferência exigido superou o esperado para o perfil médio do aluno que realiza o exame.
Possível impacto sobre os resultados
Nos próximos dias, a análise oficial do Inep poderá confirmar qual alternativa será efetivamente considerada como correta. Entretanto, a existência desse conflito já levanta preocupações, especialmente para quem depende de poucos pontos para alcançar as notas de corte em cursos concorridos.Casos assim podem resultar em recursos formais por parte de candidatos ou cursinhos, solicitando a anulação da questão, o que já ocorreu em edições anteriores do Enem. Contudo, até o momento, não há sinal oficial de que isso vá acontecer.A correção extraoficial, feita por cursinhos como o Anglo e que considerou a validade de duas respostas, reforça mais uma vez a necessidade de rigor e clareza na avaliação educacional. Enquanto isso, os participantes aguardam a publicação do gabarito oficial e possível posicionamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais sobre o tema.
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