A primeira fase da Fuvest 2026 exigiu dos candidatos mais do que memorização de fórmulas, datas e conceitos. A prova consolidou uma tendência que já vinha sendo apontada por especialistas: a da interdisciplinaridade e contextualização no vestibular da USP.
Com um foco cada vez maior em questões que dialogam com a realidade dos estudantes, a avaliação surpreendeu ao unir áreas do conhecimento distintas, como o inglês e a biologia. Também se notou uma ênfase nos temas atuais e práticos, como sustentabilidade, relações de trabalho e geopolítica.
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Prova valoriza conexões entre áreas
Segundo professores e coordenadores pedagógicos, a proposta da Fuvest 2026 reforça um dos pontos centrais da nova educação brasileira: a capacidade de articular saberes, indo além do conteúdo tradicional. Entre os destaques, estavam questões exigindo articulação entre matemática e geografia, além de perguntas que exploravam biotecnologia com trechos em inglês, tornando clara a necessidade de leitura instrumental da língua como ferramenta de compreensão científica.
Nesse mesmo sentido, a língua inglesa marcou forte presença na prova de biologia, com três questões integradas às ciências naturais. Fisiologia humana, ecologia e até astronomia apareceram como temas de textos em inglês, exigindo do candidato não apenas vocabulário, mas também familiaridade com conceitos técnicos.
Outro exemplo foi a matemática, que mesclou conteúdos clássicos — como trigonometria, geometria analítica e espacial — a questões com gráficos e mapas, o que exigiu domínio de leitura de dados e relacionamento entre disciplinas.
Mudanças chamam atenção em química e biologia
Em química, houve um desvio claro em relação a tendências anteriores. Os candidatos se depararam com uma prova voltada ao raciocínio quantitativo. Embora os cálculos não fossem complexos, a quantidade de questões com mais de uma etapa de resolução tornou a prova mais cansativa. A ausência de temas esperados, como reações orgânicas e isomeria, também causou surpresa.
Já em biologia, além da incorporação à prova de inglês, outra mudança notável foi a ausência de conteúdos tradicionalmente muito cobrados, como as questões clássicas de genética. Esse tema foi deixado de lado nos últimos anos e, nesta edição, ficou totalmente ausente. Em contrapartida, tópicos como imunologia, vacinas, vírus e aspectos ambientais ganharam destaque.
Atualidades e análise crítica na área de humanas
As questões de história e geografia mantiveram o padrão da prova tradicionalmente exigente, mas com forte presença de temas contemporâneos. Houve, por exemplo, questões abordando a "demonização" da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a precarização nas novas formas de emprego, como a uberização. Também foram inseridos tópicos sobre povos indígenas, escravidão, islamismo e democracia grega.
Em geografia, a interdisciplinaridade se revelou em perguntas com mapas, gráficos e charges, tratando de assuntos como desmatamento da Mata Atlântica, crédito de carbono e o impacto ambiental da indústria têxtil. A prova também incluiu discussões sobre o mercado de trabalho, refletindo mudanças sociais e produtivas em curso no país e no mundo.
Filosofia e sociologia seguiram essa linha, com sete questões pautadas em pensadores como Durkheim e temas ligados ao trabalho, à cidadania e à desigualdade social. A prova explorou como esses temas se conectam à vivência atual do candidato, exigindo mais reflexão que conceitos decorados.
Destaques em outras disciplinas
A matemática teve um peso clássico, mas acabou exigindo mais atenção por combinar raciocínio lógico com visualização gráfica. Desde a geometria espacial até a trigonometria, a prova cobrou uma boa leitura das figuras e interpretação de enunciados.
Na física, apesar do equilíbrio na distribuição dos temas (como queda livre, gravitação e efeito fotoelétrico), chamou a atenção a ausência de circuitos elétricos e do bloco de mecânica newtoniana com leis do movimento. Ainda assim, os enunciados estavam bem explicados, e, em alguns casos, fórmulas chegaram a ser fornecidas para facilitar a resolução.
Português trouxe uma abordagem equilibrada, mesclando interpretação com literatura. As questões de linguagem eram acessíveis, e os textos bem escolhidos. Já em literatura, exigiu-se leitura prévia das obras obrigatórias, embora com nível de dificuldade considerado moderado. Única ausência notável foi a cobrança sobre o livro “Nebulosas”, de Narcisa Amália.
Um vestibular conectado ao presente
A primeira fase da Fuvest 2026 reforça o posicionamento do exame como um dos mais exigentes e atualizados do país. Com forte caráter interdisciplinar, mergulhou em temas contemporâneos e abordagens integradas que refletem a necessidade de um ensino mais conectado ao mundo real.
Sustentabilidade, transformações no mundo do trabalho, demandas sociais e dilemas científicos marcaram a prova como um instrumento não só de seleção, mas de avaliação do pensamento crítico e da formação do candidato. Mais do que o domínio de conteúdos isolados, foi cobrada a habilidade de estabelecer relações e, principalmente, de pensar de forma autônoma e contextualizada.
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