A Fuvest 2025, primeira fase do vestibular para ingressar na Universidade de São Paulo (USP), sinalizou uma mudança clara no perfil de estudante que a instituição busca: muito mais que decorar fórmulas e acumular conhecimentos teóricos, a prova evidenciou que a habilidade de análise crítica, interpretação e conexão entre diferentes áreas do saber é essencial para a aprovação.
Com 90 questões de múltipla escolha, a primeira fase demonstrou que as ciências formais e humanas caminham lado a lado. Questões complexas de interpretação de textos, tirinhas e mapas foram comuns tanto na prova de Língua Portuguesa quanto em Geografia e História, mostrando que os candidatos precisam ser habilitados a compreender o mundo de forma transversal.
Além disso, temas atuais como a xenofobia, o garimpo ilegal, desmatamento, cultura indígena e até a "cultura do cancelamento" foram abordados. Essas questões não apenas evidenciam a contemporaneidade dos conteúdos, mas também exigem dos vestibulandos um olhar reflexivo sobre o impacto social e político dos fenômenos analisados. Em Geografia, por exemplo, o tema do garimpo ilegal no Brasil foi tratado de maneira crítica, com gráficos e figuras que demandaram uma interpretação cuidadosa.
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Um vestibular cada vez mais interdisciplinar
As questões da Fuvest 2025 foram para além do conteúdo trivial de cada matéria, apostando na interdisciplinaridade. Na prova de Inglês, temas relacionados à Física e Filosofia surgiram, reforçando o desafio aos candidatos de transitar entre diferentes áreas sem perder a coesão. Além disso, uma questão fazendo referência à música de Taylor Swift, “I hate it here”, trouxe a cultura pop para o ambiente de prova, chamando atenção do público jovem e das redes sociais, que fervilharam em reação à inesperada abordagem.
A prova de Língua Portuguesa, por sua vez, continha textos filosóficos que exigiram primordialmente interpretação crítica, e não apenas a identificação de detalhes técnicos. Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano, também apareceu em uma questão de interpretação, reforçando o caráter multidisciplinar e a necessidade de um aluno que compreenda o mundo de maneira integrada. Fato esse que se alinha à exigência, cada vez maior, de que os candidatos saibam aplicar os conceitos de forma prática, ao invés de reproduzirem os conteúdos de maneira mecânica.
Foco no candidato engajado e consciente
Outro ponto de destaque desta edição foi a presença massiva de temas indígenas e ambientais ao longo de diversas questões. A prova trouxe trechos de obras de autores relevantes, como Davi Kopenawa, sublinhando a importância de pautas sociais e históricas que, até recentemente, eram negligenciadas em muitos vestibulares. A inclusão de questões sobre extrativismo digital e a crise climática demonstrou que disciplinas como Geografia e História estão profundamente conectadas com debates contemporâneos.
O resultado disso é que a Fuvest almeja, mais do que nunca, selecionar estudantes que apresentem um alto nível de consciência social e política. Nesse sentido, a formação crítica — habilitada tanto pela preparação escolar quanto pelas leituras e análises extraclasse — é, sem sombra de dúvidas, um fator diferenciador.
Obras literárias e a valorização do aluno leitor
Na parte dedicadas às obras obrigatórias, a prova da Fuvest 2025 também ampliou o número de questões dedicadas aos livros da lista recomendada pela USP, com nove questões cobrindo quase todas as obras, com exceção de “Água Funda”, de Ruth Guimarães, que ficou reservada para a segunda fase. Obras como “Os Ratos”, de Dyonélio Machado, e “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles, foram foco nas questões.
Isso sugere que a Fuvest busca valorizar o aluno que não só tem a capacidade de leitura, mas que soube interagir com as obras literárias de forma reflexiva e crítica. A ausência de esses conhecimentos pode pesar fortemente na classificação dos candidatos — um sinal claro de que a banca examinadora premia o esforço e a dedicação de estudar profundamente a lista de obras.
Matemática e as exatas também exigiram mais reflexão
Mesmo em áreas tradicionalmente técnicas, como Matemática e Física, a habilidade de interpretação foi exigida. Em matemática, por exemplo, muitos alunos relataram dificuldades com o tempo devido à complexidade dos enunciados e à profundidade dos cálculos necessários. Este aspecto deixou mais claro que o vestibulando precisa, além de dominar fórmulas, interpretar e resolver problemas sob diferentes perspectivas, aproximando a prova das competências demandadas pelo Enem.
A disciplina de Física também trouxe aspectos fundamentais como cinemática e ondulatória, mas sempre exigindo que o estudante refletisse sobre o contexto das questões e os aplicasse na prática.
Um novo perfil de estudante
A USP, ao que tudo indica, busca cada vez mais um estudante que não se limite ao domínio técnico, mas que tenha um perfil engajado, interdisciplinar e que compreenda a realidade que o cerca sob uma ótica crítica. Para aqueles que almejam a aprovação, o recado foi claro: é necessário ir além da superfície do conteúdo e interpretar o mundo de maneira ampla — sendo capaz de dialogar com temas globais, movimentos sociais e transformações contemporâneas.
Os alunos devem, assim, estar preparados para um vestibular que já não se satisfaz com a simples memorização. Essas mudanças reforçam que o preparo para vestibulares como a Fuvest deve ser multifacetado, envolvendo tanto o estudo técnico quanto a sensibilização em torno de questões atuais e relevantes.
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