O preconceito baseado na idade, embora pareça sutil, está profundamente enraizado em diversas situações do cotidiano. O etarismo, ou ageísmo, é mais do que uma simples injustiça, ele limita oportunidades, aumenta desigualdades e reforça estereótipos prejudiciais a pessoas de todas as idades.
Muitos não percebem, mas esse tipo de discriminação começa cedo, afetando tanto jovens subestimados quanto idosos desvalorizados em diferentes ambientes, como escolas, empresas, hospitais e famílias.
O que você vai ler neste artigo:
O que é etarismo?
Etarismo é o preconceito ou discriminação contra um indivíduo com base em sua idade. Trata-se de uma forma silenciosa de exclusão social que afeta principalmente os idosos, mas também atinge os jovens, geralmente no campo acadêmico ou profissional.
O termo ageísmo foi criado em 1969 pelo médico americano Robert Butler, ao observar que pessoas mais velhas eram tratadas com desrespeito ou desconsideradas em decisões importantes. No Brasil, a palavra utilizada para designar essa prática é “etarismo”, embora “idadismo” também seja válido.
Esse comportamento pode se manifestar de maneira direta, como insultos e exclusão, ou de forma sutil, como a não valorização da opinião de alguém pela sua idade. Em todos os casos, o impacto emocional e social é negativo para quem sofre esse tipo de preconceito.
Como o etarismo se manifesta socialmente?
Embora frequentemente ignorado, o etarismo está presente em diversas esferas sociais, reforçando padrões injustos.
- Nas famílias: É comum que idosos tenham suas decisões desconsideradas sobre sua própria vida, como moradia ou tratamentos médicos. O mesmo ocorre com adolescentes cujas opiniões são invalidadas por “falta de maturidade”.
- No ambiente de trabalho: Pessoas com mais de 50 anos enfrentam dificuldades para reocupar cargos que exerciam. Jovens, por sua vez, raramente são considerados aptos para funções de liderança.
- Nos meios de comunicação: A representação de pessoas idosas frequentemente se baseia em estereótipos frágeis, incapazes ou ultrapassadas. Já os jovens são retratados como irresponsáveis ou inexperientes.
- Nos serviços de saúde:I dosos relatam ter seus sintomas ignorados ou subestimados, como se dores, limitações ou doenças fossem “naturais” da idade, sem considerar suas individualidades.
Esses exemplos mostram que o etarismo é um reflexo cultural que determina o valor da pessoa segundo o número de anos que ela tem, e isso impacta direta e injustamente sua autonomia e dignidade.
Etarismo e seus impactos em todas as idades
O preconceito por idade pode gerar sérias consequências emocionais, psicológicas e profissionais. Seu impacto se estende por toda a vida.
- Nos jovens: Muitos enfrentam resistência ao iniciar no mercado de trabalho. Seu desempenho é descreditado por “falta de experiência”, às vezes sem serem ao menos testados ou treinados. Também são desestimulados ao participarem de debates públicos ou decisões, como se suas ideias fossem irrelevantes.
- Nos adultos em transição de carreira: Aos 40 ou 50 anos, pessoas que buscam novos caminhos profissionais encontram barreiras impostas por recrutadores e gestores que preferem perfis mais jovens.
- Nos idosos: Além da exclusão no mercado de trabalho, os idosos também são vetados da participação social ativa. São muitas vezes tratados como incapazes, mesmo que suas habilidades cognitivas ou físicas estejam preservadas.
A consequência desses preconceitos é o isolamento. Pessoas deixadas à margem por sua idade correm mais risco de desenvolver depressão, baixa autoestima e sentirem-se improdutivas, algo prejudicial para indivíduos e para a sociedade como um todo, especialmente num país com envelhecimento populacional acelerado.
Etarismo: crime e legislação brasileira
No Brasil, o etarismo é reconhecido como forma de discriminação e está tipificado em leis específicas, como o Estatuto da Pessoa Idosa. A legislação garante o direito à dignidade, participação ativa na sociedade e proíbe práticas discriminatórias baseadas na idade.
Dentre os principais pontos da lei, destacam-se:
- Nenhuma pessoa idosa pode sofrer discriminação, marginalização ou violência por causa da idade (Art. 4º).
- É proibida a fixação de idade máxima para admissão no trabalho, salvo exceções legais (Art. 27).
- Dificultar ou impedir o exercício da cidadania — como negar operações bancárias, transportes ou contratos — constitui crime com pena de reclusão (Art. 96).
Além disso, jovens também são protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe qualquer forma de discriminação por motivo de idade.
Diferenças entre etarismo e velhofobia
Embora os termos se assemelhem, há distinções importantes entre eles:
- Etarismo: refere-se a qualquer tipo de discriminação por idade, podendo envolver jovens ou idosos.
- Velhofobia: é uma forma específica de preconceito direcionada apenas a pessoas idosas. Inclui medo, desprezo ou rejeição ao envelhecimento e tudo que o representa.
Velhofobia, por vezes, também se manifesta internamente — como o medo que muitos sentem de envelhecer, reproduzindo estereótipos mesmo sem perceber.
Situações cotidianas que configuram etarismo
É importante reconhecer essas situações a fim de combater o preconceito. A seguir, veja alguns exemplos corriqueiros:
- Tratar um idoso como “incapaz” sem avaliação real de suas condições.
- Ignorar recomendações ou sugestões de adolescentes por serem “jovens demais”.
- Demitir um funcionário pelo único critério de idade.
- Rir ou debochar de alguém mais velho usando termos como “velho gaga”.
- Restringir oportunidades de capacitação ou ascensão a pessoas com mais de 50 anos.
- Suprimir a autonomia de idosos quanto à moradia ou decisões pessoais.
- Ter atendimento médico baseado exclusivamente na idade, sem escutar o paciente.
- Impedir que jovens liderem equipes ou comandem projetos mesmo sendo qualificados.
Todas essas situações representam manifestações do etarismo que precisam ser combatidas por meio da informação, legislação e mudança cultural.
Caminhos para combater o etarismo
Para mudar esse cenário, é fundamental promover inclusão e respeito entre as gerações. Algumas medidas eficazes incluem:
- Educação intergeracional: incentivar projetos que envolvam diferentes idades, unindo experiências e conhecimentos.
- Capacitação profissional contínua: empresas devem criar planos de desenvolvimento adequados a trabalhadores de todas as idades.
- Campanhas de conscientização: é necessário desmistificar a ideia de que eficiência ou inteligência são exclusividade da juventude.
- Legislação efetiva: aplicar sanções para práticas discriminatórias e reforçar as garantias legais nas empresas e instituições educacionais.
- Promover a escuta ativa: tanto idosos quanto jovens devem ser ouvidos com respeito em decisões familiares, sociais e profissionais.
Combater o etarismo é reconhecer o valor de cada fase da vida. É compreender que a idade não diminui a capacidade de aprender, evoluir, contribuir ou liderar. Portanto, em sociedades que valorizam a diversidade etária, todos os indivíduos ganham mais voz, oportunidades e, acima de tudo, dignidade.
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