Em meio a uma enxurrada de postagens nas redes sociais, um assunto inesperado chamou a atenção: a prova da Fuvest de 1978. Usuários ficaram impressionados com a simplicidade de questões aplicadas há quase cinco décadas e repercutiram com ironia, saudosismo e, para muitos vestibulandos, um certo desconsolo.
O exame foi encontrado no acervo digital da própria Fuvest e rapidamente viralizou. A comparação com as provas atuais revelou o quanto o vestibular mudou em nível de exigência e profundidade conceitual.
O que você vai ler neste artigo:
Como foi a prova da Fuvest de 1978
Aplicada apenas dois anos após a criação da própria Fuvest — fundada em 1976 para unificar os processos seletivos da Universidade de São Paulo — a edição de 1978 tinha uma estrutura significativamente distinta da experiência atual. A primeira fase foi composta por 100 questões objetivas, subdivididas entre conteúdos de diferentes disciplinas:
- Língua Portuguesa
- Matemática
- Estudos Sociais (História, Geografia, Política, Economia, Sociologia e Antropologia)
- Física
- Química
- Biologia
- Língua estrangeira (Inglês, Francês ou Alemão)
Além da abrangência de conteúdos, as perguntas tinham enunciados diretos e pouco interpretativos. A prova exigia memorização e domínio da matéria, mas não o mesmo nível de abstração ou contextualização dos vestibulares modernos.
Reação nas redes sociais
A viralização teve início com a postagem da usuária @stdybianca no X (antigo Twitter), que divulgou capturas de tela das questões. A impactante diferença de dificuldade levou muitos a reagirem com humor ou frustração:
- “A Fuvest podia voltar a ser como antes”, escreveu uma internauta.
- “Que sonho ter feito ela”, comentou outro.
- Já um aluno atual apontou: “Não ironicamente, ver esse tipo de pergunta e achar trivial demonstra o avanço geral da educação no mundo.”
Entre vestibulandos, a sensação geral era de que o vestibular naquela época parecia mais acessível. Houve também quem destacasse que, mesmo com menos complexidade, a concorrência já era feroz em cursos como Medicina, Engenharia e Direito — algo que continua até hoje.
Exemplos de questões que surpreenderam
A publicação destacou 10 questões antigas. Algumas chamaram a atenção pela objetividade, enquanto outras provocaram espanto por exigirem apenas regras básicas. Confira alguns exemplos:
- Questão 76 (Biologia): perguntava em qual órgão se realiza a maior absorção de nutrientes.
→ Resposta correta: alternativa A. - Questão 46 (Química): cálculo de concentração com 3% de sal em 1 litro de água.
→ Resposta correta: alternativa D. - Questão 16 (Matemática): cálculo de porcentagem ao quadrado.
→ Resposta correta: alternativa D. - Questão 95 (Inglês): escolha correta do passado do verbo “to lie”.
→ Resposta correta: alternativa E. - Questão 17 (Matemática): verificar se 143 é divisível por 13.
→ Resposta correta: alternativa D.
Mesmo com perguntas de Física e História na prova, a linha comum era a objetividade. Um exemplo de questão histórica envolvia o conceito de descentralização do poder político no feudalismo. Já em Física, aparecia a clássica explicação da subida de líquido por um canudo: resultado da pressão atmosférica exterior.
Vestibular mais concorrido e exigente
Hoje, a Fuvest é conhecida como um dos vestibulares mais difíceis do Brasil. A prova envolve leitura crítica, interpretação extensa e conteúdos interdisciplinares, dando ênfase à capacidade analítica do candidato.
Também houve um crescimento considerável de candidatos. Em 2023, a Fuvest registrou mais de 110 mil inscritos — número significativamente superior ao das décadas passadas. Com a alta concorrência, aumentou-se também a elaboração e sofisticação das questões.
As etapas atuais incluem:
- Primeira fase: 90 questões de múltipla escolha com nível intermediário a avançado;
- Segunda fase: provas discursivas específicas de acordo com o curso pretendido, com peso em redação, humanidades e exatas conforme a área.
O que mudou em quase meio século
A evolução não se deu apenas na forma de aplicar a prova. Mudanças estruturais no ensino médio brasileiro, no perfil do estudante, nas ferramentas de preparação e no próprio papel do vestibular transformaram o processo seletivo. A exigência por uma formação mais profunda e por raciocínio crítico elevou o nível.
Além disso, a expansão do acesso à universidade e a heterogeneidade dos candidatos forçam bancas como a da Fuvest a equilibrar excelência acadêmica e justiça no processo.
Por mais que a postagem tenha alimentado a nostalgia — ou alívio por não enfrentar uma Fuvest “moderna” —, ela traz um retrato fiel da trajetória da educação brasileira e das exigências impostas àqueles que sonham com a USP.
Para quem quiser conferir a prova completa aplicada há quase 50 anos, a fundação mantém o acervo histórico original no site oficial da Fuvest. Também é possível baixar diretamente o gabarito completoda primeira fase de 1978.
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